Os anos 90 foram extremamente prolíficos quando o assunto é Rock And Roll.

De repente, e não mais que de repente, o mundo todo foi atingido e, para ficar nos termos de hoje, impactado por uma legião de bandas da Costa Oeste dos Estados Unidos, banhada pelo Oceano Pacífico e suas águas geladas.

Primeiro veio o grunge de Seattle e sua mistura de Punk com Heavy Metal que nos presenteu com nomes como Soundgarden, Pearl Jam, Mudhoney, Melvins e é claro, o Nirvana.

Pouco tempo depois, após a morte de Kurt Cobain e durante um curto período onde as coisas ficaram meio confusas, veio um certo povo da Califórnia com seu Punk Rock acessível cheio de grandes refrães e muita energia, com shows e discos dos mais influentes através de bandas como Green Day, The Offspring, Rancid, NOFX, Pennywise, Bad Religion e mais.

Nesse meio tempo uma certa banda quis mostrar que mesmo do outro lado de um vasto país como os Estados Unidos, não apenas estava por dentro de tudo que estava acontecendo como também estava escrevendo a sua própria versão do que era considerado rock alternativo, e cara, os Smashing Pumpkins sabiam muito bem o que estavam fazendo.

Origens

Smashing Pumpkins em 1992
Foto: Billboard

Fundada em 1988 em Chicago por Billy Corgan e James Iha, a banda estava cercada das bases do rock alternativo da época mas não tinha nenhum medo de experimentar e o fazia com uma competência que impressionava.

No caldeirão dos Pumpkins você podia encontrar Heavy Metal, Shoegaze, Rock Progressivo, Pop, Rock Psicodélico e pitadas de Punk Rock, mesmo que a banda sempre tenha falado que o último teve pouca influência na sua sonoridade, ao contrário dos colegas de grunge da época.

Com guitarras afiadíssimas e uma variedade vocal que impressionava, o grupo ainda contava com uma preocupação estética que se refletia desde as fotos de divulgação até os clipes onde os outros dois integrantes, a baixista D’arcy Wretzky e o baterista Jimmy Chamberlin eram fundamentais.

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Siamese Dream

The Smashing Pumpkins
Foto: Divulgação

Em 1991 os Smashing Pumpkins lançaram seu primeiro disco, Gish, e em 1993 parecem ter encontrado a sonoridade que os colocaria na história.

Siamese Dream, segundo álbum cheio do grupo, é um dos “segundos álbuns” mais competentes e interessantes da história da música e muito disso se deve ao fato de que, apesar de elogiado, o primeiro disco dos Pumpkins não foi celebrado à exaustão, o que manteve a liberdade de Corgan e companhia para criar o que bem entendesse.

Entre as 13 faixas do segundo disco do Smashing Pumpkins nós podemos encontrar a diversidade de estilos que sempre caracterizou a banda aliada a uma diversidade de temas que era abordada sempre com o sarcasmo típico do seu vocalista e compositor, que não perdia uma oportunidade sequer para “brincar” com temas dos mais sérios e profundos.

“Cherub Rock”, a faixa de abertura, é uma crítica à indústria da música onde a banda fala não apenas dos empresários de gravadoras como também dá indiretas aos “roqueiros” que não resistem às ofertas tentadoras.

Já em “Today”, uma das músicas mais ensolaradas da carreira dos Pumpkins instrumentalmente, Billy Corgan mostrou a sua habilidade em confundir: enquanto o som conta com belas passagens e fala sobre como “hoje é o dia mais incrível de minha vida”, a música é uma declaração séria sobre suicídio e sobre como o músico pensava a respeito disso constantemente.

A notícia pode ser um susto para quem sempre imaginou que a letra de “Today” falasse sobre coisas boas, mas ao mesmo tempo em que aborda um tema tão sério e complexo, ainda passa um sentimento de esperança ao final, como se conversasse com o ouvinte a respeito das coisas ruins que ficaram pra trás com a ajuda de pessoas próximas.

Para completar a trinca de singles que serve como uma pequena amostra da diversidade, inventividade e criatividade no frutífero mundo de Siamese Dream temos “Disarm”, uma verdadeira obra prima.

Aqui, Billy Corgan fala sobre a sua infância difícil e, em primeira pessoa “conversa” com os pais a respeito de tudo que passou, sempre com sarcasmo, ironia e tons bastante ácidos que contrastam com a construção de uma música que tem ares orquestrais, cordas, violões e além de não contar com guitarras pesadas como no resto do álbum, tem vocais suaves ao invés dos berros. E de propósito.

Em uma entrevista para o programa de televisão Rage, na Austrália, Corgan explicou:

A razão pela qual eu escrevi ‘Disarm’ foi porque eu não tive coragem de matar os meus pais, então eu pensei que me vingaria com uma música. E ao invés de compor uma música cheia de raiva e violenta, pensei que seria melhor compor algo muito bonito para que eles percebessem os sentimentos belos que eu tenho no meu coração, para que eles se sentissem mal por terem me tratado como lixo.

Na mesma entrevista o repórter pergunta se isso funcionou e Corgan ironiza dizendo que sim, pois “é a música favorita da minha mãe no álbum”.

Gravação

A banda se deslocou até o estádio da Georgia para gravar o álbum, já que gostaria de se isolar do mundo e se afastar das distrações de Chicago, além de tentar evitar que o baterista Jimmy Chamberlin tivesse acesso às suas conexões com as quais conseguia as drogas que usava e lhe causariam tantos problemas.

Novamente com o produtor Butch Vig no estúdio, o Smashing Pumpkins passou por um período dos mais difíceis para gravar o álbum, já que o perfeccionismo de Corgan desestabilizou a sua relação com os outros integrantes da banda.

Segundo relatos de Vig e pessoas próximas que acompanharam as gravações, era comum encontrar D’arcy trancada no banheiro, James Iha quieto pelos cantos e Billy Corgan isolado à mesa de som, gravando, regravando e até refazendo partes já finalizadas pela baixista e pelo guitarrista da banda.

Além disso, Jimmy Chamberlin gravava as suas partes de bateria e sumia por longos dias onde cedia ao vício e abusava das drogas. Há rumores de que em um dos seus retornos Billy Corgan ficou irritado e o colocou para tocar “Cherub Rock” até que as suas mãos sangrassem. Depois disso, Corgan pediu para que Jimmy se internasse em uma clínica de reabilitação, mas seus problemas com as drogas não desapareceriam tão cedo.

Arte de Capa

Siamese Dream
Foto: Divulgação

Além do seu conteúdo, a arte de capa de Siamese Dream é um destaque à parte.

Casando bem demais com o título do álbum, a foto que se tornou um dos maiores símbolos do rock alternativo conta com Ali Laenger e LySandra Roberts, que se conheceram no set aquele dia mas como a imagem deixa bem claro, parecem ter criado uma das conexões mais sinceras e honestas instantaneamente, tanto que o resultado conta com dois sorrisos que servem como cartão de visitas para o álbum logo de cara.

Em 2018, quando o grupo se reuniu com a formação clássica quase completa, resolveu recriar a arte de Siamese Dream para celebrar a turnê de retorno em grande estilo com as agora adultas Ali e LySandra.

Em sua conta no Instagram, Billy Corgan que já havia brincado e “inventado” no passado que uma das garotas seria Nicole Fiorentino, baixista que passou pela banda, fez um discurso emocionado a respeito do reencontro.

https://instagram.com/p/BfRhkAZH4Dt/?utm_source=ig_embed

 

Recepção

Para o bem da humanidade, Siamese Dream não foi um daqueles álbuns que só ganhou reconhecimento anos depois. Quando saiu o disco foi elogiadíssimo pela crítica e também ganhou o público através dos seus singles e campanhas de divulgação.

Procurando por resenhas do disco você não terá trabalho algum para encontrar textos que o celebram com notas máximas.

 

Legado

Smashing Pumpkins
Foto: Divulgação

Quando falamos do legado de Siamese Dream temos que abordá-lo em duas frentes, tanto no que ele significou para a banda quanto a respeito do que significou para o mundo todo.

Foi com esse disco que o grupo mostrou que era possível falar sobre questões das mais pessoais sem soar de forma falsa ou forçada. Também foi com Siamese Dream que os Pumpkins deixaram claro que era possível misturar um monte de influências em um trabalho dos mais coesos.

No processo, influenciaram nomes que vão de Marilyn Manson a My Chemical Romance passando por Nelly Furtado e Weezer.

Para a banda, o processo todo do segundo álbum teve lições importantes e questões que os levaram tanto a coisas boas como destinos ruins.

Dois anos depois, apoiados pelo sucesso de público e crítica, os músicos lançariam o também excepcional Mellon Collie and the Infinite Sadness, e testemunhariam a saída de Jimmy Chamberlin que cada vez mais tinha problemas sérios com o vício.

As experimentações de Siamese Dream e a liberdade de lançar um disco duplo com Mellon Collie abriram as portas para que as misturas sonoras na cabeça de Corgan tivessem cada vez mais espaço e ele levou os Pumpkins a diferentes direções nos álbuns posteriores com o “eletrônico” Adore (1998) e o “retorno” em Machina/The Machines of God (2000).

Apesar de levar adiante essa formação (com idas e vindas de Chamberlin) por mais sete anos desde o lançamento de Siamese Dream, as tensões internas e a forma como Billy Corgan conduzia as coisas foram determinantes para que o grupo tivesse relações agridoces que foram se deteriorando com o tempo.

Prova de que Billy via os Pumpkins como uma coisa própria é que a banda nunca acabou mesmo após o vocalista e guitarrista ficar sozinho como único membro da formação original, sempre lançando novos materiais e conversando com os fãs através das mais diversas formas na Internet.

Siamese Dream é um daqueles discos essenciais para quem quer entender a história de uma banda, de um gênero, de um período no tempo e do curso do Rock And Roll. A partir do seu lançamento vários padrões foram quebrados, a indústria foi desafiada e a criatividade ganhou espaço em um período onde muitos procuravam por fórmulas prontas.

Ah, e é um dos melhores discos de todos os tempos também.

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