Crédito: Santiago Epstein

Médico, músico, compositor. Daniel Drexler é muitos em um só. Em seu novo álbum, Uno, ele acha um ponto único para todas as suas personalidades em uma linguagem sonora percussiva e de forte influência da música brasileira.

Com produção musical de Kassin, o álbum contou com músicos renomados do Uruguai, Argentina e Brasil, países onde foi gravado – como Marcos Suzano, Davi Moraes, Domenico Lancelloti, Johnny Neves e Martin Ibarpuru, entre outros.

Conversamos com Daniel por WhatsApp no fim do ano passado sobre o processo de criação do álbum e a relação dele com a música brasileira.

TMDQA: Olá, Daniel! Antes de tudo obrigado pela sua paciência com minha inaptidão com o espanhol. Eu já entrevistei seu irmão Jorge e o Fito em português também. Acho que isso é um reflexo de como o brasileiro não se enxerga como parte da América Latina. Você sente isso, como músico, ao tocar por aqui?

Daniel Drexler: Sinto que há verdade no que o Caetano (Veloso) diz no “Verdade Tropical”: o Brasil é uma ilha. E é totalmente assim, é quase uma atitude de exclusão com o resto do continente. Temos muita facilidade, aqui no Uruguai, para conversar com o universo brasileiro e sinto que o caminho inverso quase não existe.

TMDQA: Seu novo disco (Uno) me surpreendeu pelo clima muito diferente do que já conhecia do seu trabalho. Eu conheci seu trabalho no Mar Abierto e me parecia um álbum muito contemplativo e, o novo, mais pessoal…

Daniel Drexler: Eu acho que ele dialoga muito mais com temas pessoais. Passei boa parte da minha vida adulta sentindo minha vida dissociada, vivendo entre dois universos. A partir dos 35, vi que a encruzilhada entre ciência e arte poderia ser algo bom. É como se eu tivesse parado na esquina e conseguisse ver os dois caminhos! (Risos) E aconteceram muitas coisas nesses últimos anos que fizeram que eu entendesse melhor meu papel como músico e como médico. Hoje unifiquei esses universos dentro de mim. Esse é o sentido do nome do disco. Tem a ver com aquelas epifanias de noites de verão que você se sente parte de algo único no universo. O disco tem esse lado da unificação pessoal e metafísica.

TMDQA: O álbum tem muitos ritmos que remetem ao samba e ao candombe, ritmos de raízes africanas. Essa foi uma busca nessa nova fase?

Daniel Drexler: Eu me criei ouvindo música brasileira. O Uruguai é um dos país diferente. Ele já foi parte tanto da Argentina quanto do Brasil, então temos uma ligação muito forte. Nesse disco, o que tentei fazer foi encontrar uma ponte entre a raiz africana de Montevideo e do Rio. Quando pedi pro (percussionista Marcos) Suzano tocar candombe, foi natural. Quando trouxe músicas do Rio para mexer aqui, também foi natural. Eu tinha a intuição que existe um universo rítmico que tem a ver com o Atlântico Sul, que olha para a África. O disco foi uma confirmação.

TMDQA: A participação brasileira no disco é incrível. Como surgiu a ideia de gravar com o Kassin?

Daniel Drexler: Sou muito fã há 15 anos, pelo trabalho que ele fez com o Domenico (Lancelotti), o Moreno (Veloso) e com o (Marcelo) Jeneci. Quando toquei em São Paulo em 2015, toquei uma música com o Jeneci, essa que gravamos juntos no disco. Depois do show, saímos para um boteco e ele disse que a música era brasileira, que tinha um clima meio Djavan. E ele disse “você tem que gravar essa música com o Kassin, manda a música pra ele. Se gostar, vai gravar com certeza”. Mandei aqui pelo WhatsApp e ele respondeu com um “adorei”.

Quando mostrei a primeira, o Kassin pediu para eu mandar as outras do disco e o processo começou. Foi algo bem especial e reunimos músicos muito importantes. O Marcos Suzano, por exemplo, eu queria gravar algo com ele desde que ouvi o Olho de Peixe (disco em parceria com Lenine, de 1993). Estava sonhando com essa oportunidade.

TMDQA: Teremos shows por aqui em breve?

Daniel Drexler: Com certeza, na segunda metade de 2018. Estou indo pro México e vamos lançar aqui no Uruguai. Após isso ainda passaremos pela Argentina e Espanha.

TMDQA: E para fechar: você tem mais discos que amigos? Se sim, tem algum disco em especial que você leva como amigo?

Daniel Drexler: Eu quero é ter um milhão de discos, parodiando Roberto. Estou agora reconstruindo minha coleção de vinil, que perdi nos anos 90. Quero muito fazer o Uno em vinil. Pensei desde a concepção em vinil, em ter lado A e B. E sobre um disco especial, Kind of Blue do Miles Davis. Não consigo deixar de ouvir ele. Sempre que estou estressado, coloco esse vinil e tudo faz sentido.

 

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