Nick Cave no Primavera Sound 2013
Foto de Nick Cave via Shutterstock

Nós havíamos comentado recentemente que o cantor Nick Cave estava sendo o alvo de críticas após marcar (e realizar) um show na cidade de Tel Aviv, em Israel.

Em uma carta aberta, Roger Waters, Thurston Moore e muitos outros artistas pediam para que Cave “reconsiderasse” a decisão, citando o boicote cultural que estão promovendo contra o país por conta das decisões do governo local. Desde então, Cave decidiu responder aos músicos através de uma conferência de imprensa.

Nela, o músico contou a história de quando Brian Eno o havia contatado há três anos para assinar a lista do boicote à Israel. “De uma forma intuitiva eu não queria assinar aquela lista, tinha algo que me parecia errado com ela”, disse. Após considerar as implicações e as razões de ambos os lados, Cave decidiu que seria “covarde” se não tocasse em Israel na turnê atual.

Então, no final das contas, existem duas razões por eu estar aqui. Uma é que eu amo Israel e as pessoas daqui, e a outra é que eu quero me colocar contra qualquer pessoa que quer censurar e silenciar músicos. Então, de certa forma, dá pra dizer que o BDS [organização por trás do boicote] me fez querer tocar em Israel.

Além disso, Cave ainda mencionou Waters diretamente, afirmando ser injusto que músicos “tenham que passar por uma espécie de humilhação pública” se decidirem ir contra a ideologia do cantor.

Agora, tanto Waters como Brian Eno resolveram responder às afirmações de Cave com uma nova declaração, e Waters comentou:

Nick acha que isso é sobre censura de música? O quê? Nick, com todo o respeito, sua música é irrelevante para essa questão social, assim como a minha, assim como a do Brian Eno, assim como a do Beethoven. Isso não é sobre música, é sobre direitos humanos.

Nós, centenas de nós, apoiadores do BDS e dos direitos humanos ao redor do mundo nos juntamos em memória de Sharpeville, Wounded Knee, Lidice, Budapest, Ferguson, Standing Rock, Gaza e colocamos os punhos no ar em protesto.

Nós lançamos nossos óculos no fogo de sua despreocupação arrogante e esmagamos nossas pulseiras na rocha de sua indiferença implacável.

Em uma outra carta, Brian Eno deu a sua visão sobre a causa:

A posição do BDS é simples: Israel tem consistentemente — e generosamente — utilizado intercâmbio cultural como uma forma de ‘hasbara’ (propaganda) para melhorar a imagem do país pelo mundo e para ‘mostrar o lado mais bonito de Israel’, nas palavras do ministro de relações exteriores. A campanha do BDS está simplesmente pedindo aos artistas que não façam parte dessa campanha de propaganda.

Não tem nada a ver com ‘silenciar’ artistas — uma acusação que eu acho um tanto irritante quando usada num contexto onde milhões de pessoas são permanentemente e grotescamente silenciadas. Israel gasta centenas de milhões de dólares em hasbara, o seu lado do argumento é transmitido em alto e bom som. Juntando isso com a tática de julgar qualquer tipo de crítica como ‘antisemita’, isso transmite uma imagem bem desbalanceada do que está acontecendo.

 

As declarações dos músicos foram apoiadas pela associação Artists For Palestine UK, que acusou Cave de “dar conforto aos injustos”.

Nick Cave usou a oportunidade de uma conferência de imprensa em Israel para falar sobre ‘silenciamento’. As pessoas ao redor do mundo ficarão surpresas de ler que Cave escolheu não falar sobre o julgamento da poeta palestina Dareen Tatour ou da perseguição do jornalista Makbula Nasser em Israel; ou da prisão indefinida de artistas, jornalistas e defensores dos direitos humanos palestinos sem qualquer denúncia ou julgamento após a ocupação do West Bank; ou da negação de licenças para que músicos palestinos ou pacientes com câncer possam sair de Gaza.

O Artists for Palestine UK acredita que são palestinos que conhecem o significado de humilhação diária e silenciamento. Nós lamentamos que, em uma terra de injustiça, Nick Cave esteja dando conforto aos injustos.

Cave ainda não respondeu às últimas declarações de Waters e da organização.

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