The Maine
Foto: Divulgação

O The Maine, banda de pop-punk norte americana, postou uma longa coluna através do seu perfil no Medium, onde pondera sobre a relação atual entre bandas e fãs, e como a queda de faturamento geral na indústria da música supostamente “força” artistas a repassarem a conta final para que os fãs paguem através de uma série de serviços e produtos “premium” que podem ser oferecidos no dia dos shows, entre eles, o famigerado e polêmico Meet & Greet.

A banda faz uma grande análise sobre como a boa relação com os fãs desde o início de sua carreira permitiu com que a longevidade do The Maine fosse sustentada pelos mesmos, que se sentiam acolhidos e envolvidos com a banda, sem nenhum custo adicional para conhecê-los. No fim, levantam a grande questão: você deveria mesmo ter que pagar para conhecer outros seres humanos?

Confira a coluna traduzida na íntegra, abaixo:

“Por que você pagaria dinheiro para conhecer um ser humano? Conheça os seres humanos que se chamam The Maine, de graça”

Enquanto nos preparamos para começar a nossa turnê “Modern Nostalgia” no fim desse mês, nós refletimos sobre os nossos últimos 11 anos como banda, e pensamos sobre como as coisas estão mais empolgantes do que nunca agora. Muito desse sentimento vem da liberdade criativa que temos para fazer o que nós bem entendemos, sabendo que teremos o apoio daqueles que ouvem a nossa música. Nossos fãs nos carregam de um álbum para o próximo. É surpreendentemente simples. Nós construímos uma relação com os nossos fãs que não somente nos ajudou a manter a nossa carreira, mas tem sido crucial nos momentos em que temos que dar um passo adiante. Tudo parte da ideia de que, se você é fã de algo, você não deveria falir só para apoiar isso.

Vamos retomar a 2007. Nossa banda saiu de Phoenix (Arizona, EUA) para tocar alguns shows que nós mesmos marcamos na Costa Leste. Era a nossa primeira vez tocando as nossas músicas longe de casa, e alguns shows nem chegaram a acontecer devido à falta de promoção ou pelos poucos ingressos vendidos. Nós nem ligamos. Para nós o importante era estar na estrada tentando tocar na frente do maior número de pessoas possível. Com show ou sem show, nós só queríamos tocar e conhecer qualquer pessoa que pudesse estar interessada na nossa banda. Eu aprendi muito nessa turnê.

Eu aprendi como agradecer alguém por prestar atenção na nossa música. Eu acho que o ponto é, nós decidimos ir atrás de conhecer pessoas, e nós as conhecemos. Em alguns shows foram 4 pessoas. Em outros foram 40. Era a primeira vez na minha vida que alguém chegava e me pedia para eu assinar o meu nome em um pedaço de papel. Nós nem sabíamos na época, mas esse seria um passo muito importante para a nossa banda. Até esse ponto, a única interação que tínhamos com os nossos fãs era na internet. Nós passávamos horas todos os dias respondendo comentários e interagindo com os fãs, mas dessa forma só conseguíamos chegar até certo ponto. O contato tangível, frente-a-frente e as conexões pessoais que tivemos naquelas turnês iniciais fez a diferença. Posso dizer isso porque até hoje eu encontro pessoas todas as noites que me dizem com grandeza de detalhes o que foi que eu disse a elas no nosso último encontro quando eu estava na cidade delas. Eu posso não lembrar de todos os detalhes, mas eles lembram. Eu sei que o que nós dizemos a essas pessoas é importante para elas. Nesse ponto da história você poderia avançar o tempo até chegar no presente e eu tenho certeza que em qualquer momento desses últimos 10 anos que você pausasse para conferir, nós estávamos do lado de fora dos nossos shows apertando mãos e tirando fotos com os fãs.

Mas vamos avançar para a nossa primeira turnê grande como banda de apoio. Essa realmente abriu os nossos olhos. Os shows eram gigantescos, nós estávamos vendendo uma quantidade grande de camisetas e nos divertindo demais. Conforme as coisas progrediam nós começamos a reparar em algo. As bandas mais conhecidas do line-up estavam cobrando pelos eventos Meet & Greet. Muito dinheiro (além de comprar uma camiseta, algo em torno de 20 dólares a mais) só para ganhar 5 segundos com a banda e depois você era liberado. É aí que rola uma ruptura. Existem duas formas de ver isso. Eu vou explicá-las.

Primeiro, okay, eu entendo. A indústria da música está em declínio, tudo está pegando fogo, meu deus ninguém compra discos mais, o que nós vamos fazer? A resposta mais comum para essa pergunta esses dias seria taxar os fãs. Deixem que os fãs paguem mais dinheiro por ingressos, merchandising, e vamos cobrar dinheiro pra quem quer uma foto com a banda. Você está se adicionando (você, um ser humano) à lista de produtos disponíveis. Pense um pouco nisso. Pague dinheiro e me conheça (ou nos conheça). Parabéns, você se tornou um ser humano com uma etiqueta de produto. Agora você se encontra na posição de dizer ‘nós jamais faríamos isso com os nossos fãs’ e você está absolutamente certo. Se os fãs pararem de pagar esses preços ‘premium’, você pode dizer adeus ao ônibus confortável de turnês, membros experientes da sua equipe, e provavelmente à sobrevivência no longo prazo da sua banda. 

Agora vamos pensar sobre isso de uma perspectiva diferente. Qual é o objetivo de longo prazo? Se você quer fazer parte de uma banda por um bom tempo, por que não parar por um segundo e pensar sobre como essas decisões tomadas agora podem impactar a sua carreira ao longo do tempo? Se somente houvesse um jeito de se entregar um pouco mais e garantir que os fãs se sintam satisfeitos, leais, e parte de algo maior.

Talvez exista um jeito.

Talvez isso seja o que nós fizemos. Nós continuamos fazendo a mesma coisa, todas as noites. Não importa se somos headliners ou a banda de abertura, nós estávamos lá na pista conversando com os nossos fãs pela maior quantidade tempo possível. É isso. Eles contam para os amigos sobre, seus amigos vêm com eles no próximo show. Os shows consequentemente ficam maiores, a comunidade de fãs se expande, nós ainda fazemos turnês de ônibus, e eu estou escrevendo esse artigo através da conexão de banda larga que eu pago na casa que eu comprei pra mim. O meu ponto é que você não tem que repassar o custo da queda de lucro na venda de discos diretamente para os seus fãs. Você tem que ser criativo. 

Em 2015 nós anunciamos a turnê ‘Free for All (Gratuita Para Todos). A ideia era que qualquer um que quisesse nos ver tocando as nossas músicas podia participar. Sem compromisso. O show é gratuito, tudo o que você tem que fazer é aparecer. Nós sentimos que se a sua situação financeira permitia que você pudesse ouvir a nossa música, mas não assistir a ela ao vivo, você devia ter uma chance de poder presenciar os dois. Nós tivemos que ser criativos com os locais e casas de show, mas no fim a turnê aconteceu e foi uma das melhores que nós já fizemos. A melhor parte? Não tem desculpa. Se você é um fã e mora perto o suficiente, tudo o que você tem que fazer é se deslocar até o show. Não somente nós estávamos ganhando o respeito dos nossos fãs, mas nós estávamos tentando chegar até eles de formas que nós nunca havíamos conseguido antes. A CNN escreveu uma matéria sobre o que nós fizemos, como se fazer algo de graça para as pessoas fosse algum tipo de conquista inovadora. Ao mesmo tempo, nós estávamos garantindo que essas pessoas iriam retornar e nos dar apoio no futuro (desde que o nosso show fosse bom). E para nós, não havia pressão. Nós estávamos nos divertindo. Não existia um valor de ingresso que criasse uma expectativa inalcançável e nós conseguimos sair dessa com um um pouco de pensamento fora da caixa. 

Eu acho que no fim do dia, tudo é sobre como você decide se posicionar. Não existe nada errado em estar em uma banda e querer lucrar com ela ao mesmo tempo. O que realmente importa para nós é o lado real e tangível das coisas. As pessoas não deveriam ter que pagar uma quantidade absurda de dinheiro em ingressos, ou para conhecer um ser humano. Nós queremos que os nossos fãs sintam que eles são parte de algo maior, e que eles não tem que falir para apoiar a nossa carreira. O suporte que nós já recebemos nos permite torcer as regras e fazer as coisas do jeito que queremos. Esse suporte nos guiou criativamente e prolonga a nossa longevidade. Então sim, se você toca em uma banda e quer saber mais sobre como nós conseguimos fazer isso acontecer, você pode falar conosco pessoalmente sempre que quiser. Nós seremos os cinco caras esperando do lado de fora dos nossos shows, de graça

The Maine

Já vimos exemplos curiosos de fãs que pagam preços exorbitantes, além do valor de ingressos e merchandising adquiridos nos shows, para segundos de encontros constrangedores e fotos com distância física de mais de 1 metro entre fã e artista. Uma prática altamente questionável, pois soa como extorsão na maioria das vezes.

Por outro lado também já cobrimos promoções e casos como os de Bryan Adams, Linkin Park e Bring Me The Horizon que optaram por formatos menos abusivos (ou gratuitos) de Meet & Greet com os fãs no Brasil. O Incubus é outra banda que trata o assunto de forma inovadora, pois o valor cobrado pelo Meet & Greet é totalmente destinado à sua ONG, Make Yourself Foundation – que se envolve com causas diversas que vão do combate ao Câncer de Mama, construção de moradias e resgate e adoção de animais domésticos.

E você, leitor do Tenho Mais Discos Que Amigos, qual é a sua opinião sobre o tema? Já participou de algum Meet & Greet (no Brasil ou em outro país)? Deixe o seu relato pra gente nos comentários da matéria e vamos tentar expandir a discussão para dentro da nossa realidade.

 

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