Prophets Of Rage
Foto: Divulgação

Muitas vezes o conceito de supergrupos é muito questionável, outras vezes o modo como são criados é mais questionável ainda. Não se sabe a relevância daquele projeto, se surgiu só pelo dinheiro ou se pode sustentar algum material inédito. Tudo isso não parece real quando falamos do Prophets of Rage. Formado por membros do Rage Against the Machine/Audioslave, Public Enemy e Cypress Hill, eles provam com o álbum de estreia que podem não ser a banda que queríamos, mas são a banda que precisamos.

“Nós não começamos esse projeto como uma resposta a Donald Trump, surgimos como uma forma de resistência para injustiça e desigualdades causadas por qualquer que fosse a pessoa na Casa Branca. Com Trump no poder, é mais importante que nunca manter firme essa resistência”, conta o guitarrista Tom Morello para a gente durante a passagem relâmpago do grupo no país, no primeiro semestre, para dois shows.

Um bem-humorado Morello nos recebeu poucas horas do show no Rio, no bar do hotel onde o grupo estava hospedado. Além do guitarrista, estavam lá o baixista Tim Commerford e o rapper B-Real, frontman do Cypress Hill. Completam a banda o baterista Brad Wilk, que fazia parte com Tom e Tim do Rage Against the Machine e do Audioslave, e DJ Lord e Chuck D, do lendário Public Enemy. O grupo de hip hop foi responsável pelo nome da nova banda, que vem do título de uma música do clássico álbum It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back, de 1988.

Muito aconteceu no mundo desde nossa conversa, de nazistas marchando com orgulho e tochas pelas ruas americanas até essa crise meio patética, meio assustadora com a Coréia do Norte, mas a força das mensagens do Prophets of Rage se mostra atual. Seja nas canções recriadas nos shows, seja nas faixas inéditas lançadas.

O carro-chefe do disco é “Unfuck the World”, que deixa claro a matriz e a vocação do grupo. Denunciar o que está de errado e tentar unir o público em torno de um objetivo comum: literalmente “desferrar” o mundo.

“O mundo está muito fodido!”, ri B-Real. “Acho que se as canções forem ao mesmo tempo boas e provocativas o suficiente para fazer as pessoas tirarem as vendas dos olhos, nosso trabalho está feito. Nós queremos diverti-las, mas tirar elas do marasmo ao mesmo tempo”.

“Música é uma língua universal que veio antes da fala e da escrita. Quando você encontra a forma certa de unir os sons e as palavras pela música, é o mais próximo de mostrar uma verdade direta através da arte. E quando você fala a sua verdade na sua música, o público sente isso. Se você mostra pela música alguma injustiça ou desigualdade, as pessoas notam que não estão sozinhas em sentir isso”, explica Morello.

Reunindo 12 faixas inéditas, Prophets of Rage já está disponível nas principais plataformas de música digital e discursa desde temas como racismo (na já citada “Unfuck the World”), como a questão dos desabrigados (“Living in the 110”), passando pela necessidade de união das minorias (“Strength In Numbers”) e visibilidade dessas minorias (“Legalize Me”). O disco foi produzido por Brendan O’Brien, responsável por alguns dos álbuns mais icônicos do Rage Against the Machine, como o Evil Empire e o The Battle of Los Angeles, além de discos icônicos dos anos 90.

“Tem muito escapismo hoje na música. Tiro o chapéu para artistas como Kendrick Lamar e J.Cole que fogem disso em busca de algo real. Para mim, música é um modo de comunicação. Creio que ela ajuda a educar, informar e fazer as pessoas se envolverem. Isso desde sempre, como Tom disse, desde tempos antigos. Nós decidimos que essa seria nossa mensagem. Não só do que vemos nos Estados Unidos, mas o que vemos pelo mundo, incluindo aqui no Brasil. Isso sem a ideia de fazer as pessoas engolirem algum discurso, mas verem que essa situação existe. O que está faltando no mundo hoje é compreensão e compaixão”, completa B-Real.

Depois da missão auto-imposta de fazer a América sentir raiva de novo (com a turnê Make America Rage Again), o Prophets of Rage está preparado para entrar numa turnê mundial para espalhar sua mensagem pelo mundo em tempos de conservadorismo. E eles quiseram deixar claro uma em especial para os brasileiros.

“Nós somos músicos e vamos manter forte nossa resistência através de nossas músicas. Mas esse é o papel de todos que acham que o mundo tem que ser melhorado para ser mais humano, seja qual for o papel na sociedade ou vocação. O principal é não normalizar o que está acontecendo. Se alguém é abertamente homofóbico ou aparenta sentir saudades de tempos de ditaduras, você tem que deixar claro que isso não está certo. Apenas resista“, conclui Morello.

https://www.youtube.com/watch?v=L8yw05ixZtY

 

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