Bratislava

Foto por Ian Fonseca

Bratislava é uma das bandas brasileiras que irá fazer parte do festival Lollapalooza Brasil em 2017.

A banda tem se movimentado bastante nos últimos anos e aparecido como uma grata surpresa da nova música brasileira ao misturar uma série de elementos que deixam sua sonoridade bastante própria e sem um rótulo definido.

Em 2015 os caras lançaram seu último disco, Um Pouco Mais de Silêncio, e esse ano se preparam para um novo trabalho.

Conversamos com o grupo sobre o Lollapalooza, presente, futuro, projetos paralelos e mais.

Divirta-se!

 

TMDQA!: O Bratislava é um nome que começa a ganhar cada vez mais força no underground fazendo um som bastante particular. Como é estar no Lollapalooza Brasil com a possibilidade de divulgar seu som para tantos novos fãs em potencial?

Victor: Cara, é uma das coisas mais incríveis que já aconteceram para a banda. O Lolla é um evento gigante. E o nosso corre do dia-a-dia é trabalho de formiguinha, carregar equipamento, tocar nas pequenas casas pra 30, 50, 100 pessoas nos dias bons, pegar estrada pra tocar nas casas de show do interior, colar lambe-lambe, chamar galera nos eventos do facebook, eventualmente tocar em festivais independentes… E aí, de repente, cruza o nosso caminho esse acontecimento e naturalmente nos faz parar um pouco pra pensar, pra tentar sair um pouco dos processos internos da banda e tentar enxergar a coisa toda de fora. A gente tá curtindo essa experiência a cada dia que antecede o festival. Tem sido uma época novos entendimentos, de amadurecimento. E, pô, ver nosso som alcançando uma galera, chegando a novos públicos, é o que toda banda quer. Ver as músicas criando pernas, andando por aí, buscando as pessoas que vão abrir o peito e deixar entrar, procurando possíveis diálogos, estados de sintonia sensível, de troca sensível. É muito foda.

TMDQA!: Para alguém que nunca ouviu o som da Bratislava, como vocês a descreveriam?

Victor: (Risos) Pois é, gosto de como você colocou na questão anterior, “fazendo um som bastante particular”.

Lucas: É som de doido mesmo! Uma mistura heterogênea que junto dá certo. Bratislava é experimental, é música pra ouvir atentamente e de peito aberto!

Alexandre: Sempre tivemos dificuldade de encaixar o som que fazemos em algum estilo. Talvez isso aconteça porque, de fato, nunca quisemos nos encaixar. Nosso processo de composição sempre foi bastante livre, sempre em conjunto, com muitas descobertas e mudanças de rumo. Talvez ainda estejamos procurando o fator em comum no meio dessa variedade. Cada álbum lançado até agora possui uma estética diferente um do outro, até pelas mudanças de integrantes que ocorreram entre as primeiras gravações. O fato das letras tratarem de temas pouco concretos e muito abertos a interpretações também reforça essa qualidade difusa de gênero musical. No fim das contas, se eu tiver que dar um rótulo pro nosso som, acho que eu chamaria de “rock imaginativo”, algo assim.

TMDQA!: Victor, os últimos anos foram movimentados para você. Em 2016 teu projeto Godasadog esteve em nossa lista de melhores discos nacionais do ano. Como tem sido 2017 até agora e quais são os planos para o futuro próximo?

Victor: Foram mesmo. Desde 2011 eu só não lancei disco em 2014. O Godasadog é meu amor proibido, é um projeto ilimitado, sem cercas, e com essa coisa do namoro à distância também [o músico parceiro de Victor no projeto mora na Europa], de transar via telégrafo, de idealizar o parceiro. Fiquei muito feliz quando vi na lista do TMDQA, rolaram muitos downloads do disco no dia. É louco, o mundo das artes em geral funciona baseado na credibilidade da obra, e eventos como sair em listas de melhores discos ou participar de um grande festival fazem com que sua música ganhe espaços, cresça, seja mais respeitada. Então curtir esses acontecimentos não têm nada a ver com vaidade, com uma sensação de novo status ou coisa do tipo. Na real não é nem uma sensação de recompensa, de justiça (que pode ser um sentimento bem escorregadio). É uma alegria despojada, eu fico feliz porque a música consegue correr mais longe, às vezes até bater mais fundo. E quanto aos planos para o futuro próximo, 2017 é ano de Bratislava. Estamos a milhão!

TMDQA!: E que tipo de abordagem você tem quando vai compor uma canção para a Bratislava? Como isso é discutido com a banda toda em estúdio?

Victor: Estamos preparando o nosso terceiro disco agora e, pela primeira vez na nossa historinha, estamos compondo JUNTOS um disco, com uma formação consolidada, firme. Nossos discos anteriores foram compostos e gravados em meio a turbulências internas, saída e entradas de membros, resgates de canções compostas por mim e pelo Xande em 2008, 2009, misturadas a composições novas… Começamos o processo criativo do novo disco em meados do ano passado, from scratch, fazendo jams em alguns ensaios, testando coisas novas. Paralelamente, compus algumas canções sozinho e trouxe para a banda mexer. Então tem sons que surgiram de ideias do Sandro, outros de uma batida do Lucas, de um riff do Xande. Trago as letras para a roda também, mostro pros caras, todo mundo mete a mão, opina. Acho que os caras tem que pirar nas letras – porque se meus próprios parceiros não piram, quem vai pirar, né? É por aí. É o nosso disco feito 100% a 8 mãos, com discursos todos escritos há menos de 1 ano, muito atuais, muito sinceros. Estamos ansiosos pra mostrar esses sons.

TMDQA!: Com tempos tão difíceis, que tipo de impacto você acha que o caos político e social, aqui e lá fora, terá na arte em um curto prazo. Vocês já se sentiram inspirados a escrever a respeito?

Victor: Com certeza. Há assuntos da agenda social, como igualdade e liberdade de gêneros e orientação sexual, que me tocam sobremaneira. E também procuro ser cuidadoso ao me aproximar desse terreno difuso entre empatia e apropriação de discurso, porque por mais que eu ache que as coisas tem melhorado de forma geral – no sentido de que percebo uma modificação social positiva acontecendo diariamente – ainda há muito ódio, ainda é rara a postura do chamar para o diálogo, do mostrar uma outra realidade possível pra quem ainda enxerga as coisas dentro das distorções tradicionalistas. Acima de tudo, acho que tratar de assuntos políticos/sociais na sua obra de arte tem que ser algo natural, e algo real que você vive ou que te constrange profundamente, pois é a única maneira de você criar algo possivelmente bonito, verdadeiro. Sabe, quando você vê Caio Prado e Lineker cantando “a placa de censura no meu rosto diz: não recomendado à sociedade”, você sabe que eles estão falando de uma treta muito real da vida deles, e por isso é lindo, bate muito forte. No início de 2016 a Bratislava lançou uma faixa chamada “Revida”, que contava o drama de uma mãe que está amamentando seu filho no trem e sofre abuso verbal de um homem. Acho que a gente vive o que a gente vive e a gente também vive o que a gente vê, a gente sente as dores uns dos outros. Empatia é uma coisa muito bonita. Observar o mundo e se deixar ser revolucionado pelas coisas que te tocam, acho que é uma tarefa muito básica do artista.

TMDQA!: Sem ficar em cima do muro: cravem 3 bandas que vocês querem muito ver no Lollapalooza Brasil 2017!

Lucas: The Strokes, MØ e Haikaiss

Victor: MØ, Glass Animals e Metallica

Alexandre: Haikaiss, Jaloo e The Strokes

TMDQA!: Vocês têm mais discos que amigos?

Victor: Acho que não! Ouço sons novos todo dia, mas quase não tenho discos. Gosto mais da ideia de ter mais amigos do que discos, porque com eles eu posso fazer muitos discos! \o/

Lucas: Meio a meio. Tenho muitos discos, mas também tenho muitos amigos! (risos)

Alexandre: Com certeza, ouvimos muitas bandas novas e muitos discos bons com frequência… Bobear tenho mais discos que amigos.

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