Saiu, no mês passado, um dos grandes discos de 2016. Talvez você não tenha ouvido falar dele. Não rolou em playlist nem em rádio comercial. Mea culpa: nem aqui no TMDQA! rolou. Mas confia em mim. Trata-se de Curado, novo álbum do Hurtmold, um dos grupos mais criativos a habitar essas terras ao sul do Equador.

Curado é uma parceria do sexteto paulistano com Paulo Santos, multi-instrumentista mineiro conhecido pelo trabalho no Uakti, que se dissolveu há um ano. Com quase quarenta anos de história e ricas contribuições para a música brasileira e mundial, o Uakti é, de certa forma, um precursor do Hurtmold. Foi um grupo que, apoiado nos alicerces da brasilidade, explorou fronteiras de som e criou música à frente do próprio tempo.

E é aí que Curado fica ainda mais interessante. Não é só um encontro de músicos. É um encontro de gerações diferentes, mas igualmente dedicadas à criação de música livre.

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Deslizando entre gêneros musicais em cruzadas sonoras que vão do jazz aos cantos distópicos da eletrônica, o Hurtmold montou uma das discografias mais interessantes da música instrumental, daqui ou de fora. Em Curado, o primeiro disco desde o ótimo Mils Crianças (2012), o conjunto ganha novos timbres e tons ao se aliar à inventividade de Santos, acostumado a dar à luz música a partir de qualquer material – de pedaços de vidro a tubos de PVC.

Por e-mail, entrevistei Guilherme Granado, responsável por teclados, vibrafone e elementos eletrônicos no Hurtmold. A conversa você lê a seguir, logo após o link para ouvir o álbum – indisponível nos serviços de streaming – via YouTube:

A parceria com o Paulo Santos possibilitou um encontro entre músicos de origens, tempos e histórias musicais diferentes. Como você descreveria a interseção desses dois universos durante a produção de Curado?

Guilherme Granado: Pra nós, é claro, foi uma honra logo de inicio lá em 2008 quando ele aceitou fazer um show com a gente. Sempre fomos fãs do Uakti e ter tido essa possibilidade e ele ter sido tão receptivo logo de cara foi demais. E, naquele mesmo show, já percebemos que dava pra levar as coisas mais pra frente. Continuamos tocando e uma hora a conversa sobre o disco apareceu, naturalmente. Antes de tudo, acabamos virando amigos, o que é uma coisa muito importante pro Hurtmold. Os universos acabaram se juntando assim, naturalmente por conta dessa relação pessoal. Tudo fluiu muito bem.

O disco exibe uma liberdade criativa recorrente no trabalho do Hurtmold, mas que parece ter ganhado novas texturas com a participação do Paulo. O resultado do disco surpreendeu vocês?

GG: Difícil definir se surpreendeu. Eu diria que o disco é a melhor expressão daqueles dias que passamos juntos no estúdio e do tempo antes disso tocando juntos e desenvolvendo nossa relação. Estamos muito felizes com o resultado. Está tudo ali. Queremos fazer outros juntos.

Alguma parcela do disco é resultado de improvisações, antes ou durante as gravações?

GG: Existe alguma improvisação, sim. Mas menos do que parece. Em alguns momentos mais livres, e em outros mais controladas. E existem também composições bem fechadas e mapeadas, amarradas. E isso existe em todo o nosso processo de composição e gravação.

Ao criar música tão livre e com tantas possibilidades, vocês se baseiam em algum tipo de norte, alguma referência? Ou quanto mais livre, melhor?

GG: Nossa intenção é e sempre foi fazer música que fale pros nossos corações e, se possível, tocar os corações das pessoas. Não conversamos sobre referências musicais quando estamos produzindo e cada um de nós tem gostos muito variados. A nossa relação pessoal nesses quase 20 anos fala mais alto. A vida, mais do que tudo, é a nossa referência. A liberdade, pra mim, esta exatamente aí: no fato de nunca estarmos presos a referências a não ser a nós mesmos.

Curado está à venda em CD no site do Selo Sesc, responsável pelo lançamento. Destaques: “Pastel de Pixo”, “Yice” e “7:30 Olha o Queijo”.

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