Kid Foguete - A Brief Study On How To Fail Completely Vol. 1

A banda paulistana Kid Foguete já está em nosso radar há algum tempo e temos falado dela desde que ouvimos o até então mais recente trabalho do grupo, o EP Pure Places.

Hoje o grupo liderado por Rafael Carozzi está lançando mais um trabalho, o compacto A Brief Study On How To Fail Completely Vol. 1, e nós conversamos com o cara para que ele explicasse cada uma das faixas do EP.

Você pode ouvir o lançamento, que sai pela Mono.Tune Records, logo abaixo, e já ler as descrições de Carozzi para cada uma das canções, que variam entre o pós-punk, o rock alternativo, o emo e o indie. Nas letras, inspirações do espaço, amor, sexo e mais aparecem em um caldeirão pra lá de interessante.

A partir do dia 22 o disco estará nas plataformas de streaming como Spotify, TIDAL, Deezer e Apple Music.

No dia 09/07 a banda faz um show de lançamento do EP na Casa do Mancha (informações por aqui).

Divirta-se!

 

01. Looking For The Right Things (in The Wrong Places)

Provavelmente a canção mais direta do disco. Nós já tocávamos essa música faz mais de um ano. Eu trouxe o esqueleto e nós a finalizamos em grupo, então ela acaba sendo uma baliza interessante pro resto do disco por ser uma música que já estava mais madura na nossa cabeça.
A letra fala de uma época em que eu estava compensando bastante coisa que andava errada na minha vida de uma forma não muito inteligente. Alguns excessos pontuais.
Fala bastante de sexo como substituto de carinho, sobre como eu andava fazendo essa troca regularmente e acaba apresentando o tema da solidão logo de cara.
O instrumental dessa faixa é enganosamente simples e direto. Na real ela marcou um ponto de virada da nossa forma de compor, da preocupação com os climas, com a narrativa que seria apresentada em cada momento. Também é a música em que eu vejo o que esses quatro anos tocando com o André na outra guitarra fizeram por nós dois como guitarristas. É uma coisa quase íntima, somos cúmplices do quanto a gente mantém tudo na forma mais sintética e funcional pra música.

02. The Plan

Essa foi uma música que eu fiz especificamente pro disco. É uma das faixas que eu gravei sem os outros caras da banda, tocando tudo. No dia de gravar a voz, a Alinne (que comanda os sintetizadores do Kid) passou aqui pra me ajudar e acabou ajudando a terminar a letra também.
Nós dois somos bem parecidos apesar dos dez anos de diferença de idade, então foi uma experiência bem intensa e forte escrever junto com ela.
Na nossa sociedade, quando algo dá errado, nós entendemos como fracasso. Temos medo, vergonha. Então tem essa visão de alguém mais nova, com o mundo todo pela frente mas cheia de medo de errar e tem eu pensando em tudo que o medo de errar me fez deixar de tentar. É interessante que a música só abre sonoramente na hora em que a letra fala de aceitação de que as coisas tendem mesmo a dar errado, mas que isso não é motivo pra deixar de tentar; um momento que também fala de humildade, questionando a própria posição e aceitando a possibilidade do erro.
A explosão no final é o “vai de cabeça”, saca? Se é pra fazer, vai de coração. Assume a sua e mergulha até o fundo, por que se não for você pra correr atrás do que quer, ninguém vai correr por você.
É uma das músicas que tem a parte instrumental mais interessante do disco. Vai bem longe do que estávamos acostumados a fazer, principalmente no ritmo mais lento e marcado e no uso das guitarras também como elementos rítmicos.

03. An Ever Expanding Universe

Aqui entramos nas minhas pirações com espaço, tempo, física… enfim, todo disco teve pelo menos uma dessas e o primeiro EP é quase que inteiro sobre isso.
Mais uma feita especialmente pro disco. Fomos aprender a tocar depois de ela já estar gravada.
Essa música fala diretamente sobre solidão traçando um paralelo com o Paradoxo de Fermi; que é a discrepância entre a grande probabilidade matemática de existir vida inteligente em outros planetas e o fato de não termos nenhuma evidência de que ela exista. Esse conceito também fala um pouco sobre o fato do Universo estar em constante expansão e sobre como isso impossibilitaria nossa viagem pra fora do nosso sistema “vizinho”. Afinal, enquanto a gente estivesse indo pra lá, o “lá” estaria se afastando de nós.

Parece bem mais cabeçudo do que é, e no final, a música é bem otimista. Fala sobre darmos chance de reconhecer a sorte que a gente tem de existir juntos nesse momento. Nem precisamos ir no número absurdo da idade do Universo, saca? Eu podia ter nascido em outra época, antes das pessoas que eu amo. Ou podia nem ter nascido ainda. Só o fato de eu existir junto com as pessoas que estão comigo é tão absurdamente maravilhoso, e que eu não entendo como conseguimos encontrar motivos pra nos afastarmos uns dos outros.
Eu gosto muito do que alcançamos na segunda parte dessa faixa. Depois que a letra acaba a música continua crescendo, abrindo. Eu queria que esse momento passasse uma sensação de solidão no meio de algo gigante (tipo a Terra no Universo), e acho que conseguimos.
Outra coisa legal dessa faixa é que toda a parte de timbre dos synths é baseada nessa playlist da NASA.

04. Walls

Outra das que já tocávamos faz tempo e acho que a mais pesada sonoramente e emocionalmente.
“Walls” fala de como nossos costumes e nossa criação nos isola dos outros. Como a gente é ensinado a identificar o “estranho”, o “inimigo”.
É uma música que fala de como o meio nos molda “the city messed with my brain and slowly blended with my soul” / “they were my friends and family. The walls that built my solitude”,  fala de família, de educação “I’ve never thought that we should be living lives in fear. It started in my roots but I won’t keep it in my seeds”, de trabalho e de doutrina “We run as fast as we can and never reach for what we want. It is our sweat that keep those big wheels turning. We try as hard as we can, we’ve been told to be tough. But in their eyes, it never seems we’ve done enough” e, no fim, suplica pra que a gente dê um tempo. Tipo, literalmente.
Na parte instrumental é uma das que eu mais gosto. Acho que é a música que mostra que o baixo do Pablo e a bateria do Felipe são o que carregam o Kid, mesmo que a gente fique tentando os encobrir com guitarra o tempo todo.

05. A Brief Study On How To Fail Completely

Eu fiquei muito tempo trancado em casa fazendo esse disco e a Alinne e os caras foram grandiosos em deixar esse som entrar no corte final.
Não falo isso de forma depreciativa para a faixa, acho essa música importantíssima como experiência, como preparo pro que vem depois. É quase como uma passagem de tempo entre tudo que é relatado na “Walls” e como isso resulta em pessoas incompletas, o que acaba culminando em relações como a contada na última música.

06. Bound

É a única música do disco que fala de amor romântico mesmo. Outra das que fiz por aqui e ainda estamos decifrando como executar ao vivo.
É uma música sobre partida, sobre o processo de desligamento depois de você já ter vivido com alguém como se fosse um. Na verdade fala sobre como esse desligamento não acontece de fato, pois acabamos nos tornando um pouco as pessoas que passam por nós. A letra é auto referencial de outros momentos do Kid, fala de “Lifeless Rock”, do primeiro EP e de “Gravity”, do segundo. Tem mais um toque de piração com o espaço na metáfora com a Lua no finalzinho da canção. Existe a teoria da fissão, que diz que a Lua teria sido parte da Terra em algum estágio inicial do nosso sistema solar, porém algo aconteceu e ela se separou. Mas tá sempre ali, rondando. Acho que resume bem a ideia da música como um todo.
Eu acho o instrumental dessa música uma mistura esquisita de sensualidade e tristeza. A bateria minimal, o baixo quase-trip-hop, o synth nupcial e as guitarras mais shoegazzy que já fizemos somadas ao vocal choroso e à letra bad vibe.

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