A banda paulistana Institution trabalhou pesado em seu mais novo disco de estúdio, Desolation Times, lançamento da gravadora Hearts Bleed Blue.

Não apenas porque o seu estilo é o hardcore, sempre carregado de riffs potentes e vocais agressivos, mas também porque buscou trabalhar da melhor maneira possível para finalizar o álbum e acredita que chegou ao objetivo que traçou.

Com exclusividade, trazemos a estreia do primeiro disco do Institution, bem como um faixa a faixa com o vocalista Hélio, que detalhou cada uma das canções pra gente.

Aperte o play e divirta-se!

https://www.youtube.com/watch?v=Rb04z_j9RX8&list=PLvIqEwjp3ARCYpHCxlfT-7hc5FsiGJ8oM

“Panopticon”

Hélio: Essa foi a primeira música que construímos junto ao Rodrigo na bateria depois da saída do Paulo e ela serviu, de certa forma, como uma direção para a construção do resto do disco. Acreditamos que ela capta o “espírito” do disco como um todo e essa foi uma das razões de a escolhermos para abrir o disco. A letra fala sobre a vigilância constante do Estado e da ratificação do seu poder por meio de regras e leis, que são constantemente exigidas e cuja negligência resulta em punições – a fim de determinarem um comportamento social.

“Unwelcome Exile”

Hélio: É uma das músicas mais dinâmicas e pesadas que já fizemos e ao meu ver representa bem as várias influências que temos. Ela combina bem o estilo de guitarra do Fábio – que é mais hardcore – com o estilo do Felipe – que é mais metal. No que diz respeito à letra, o tema escolhido foi a divisão hierárquica e social difundida pela valorização do solo urbano. Em grandes cidades como São Paulo, a reorganização espacial por via de construtoras, aliada aos interesses estatais, altera o perfil socioeconômico de uma região, dificultando assim o acesso a cultura e a moradia a uma parcela da sociedade.

“Blurred Livelihood”

Hélio: Definitivamente é a minha música favorita, não só do álbum mas também da banda. Ela é intensa, dinâmica e voraz do começo ao fim. Quase toda a música foi composta pelo Rodolfo, com a adição de alguns riffs do Felipe. Na época em que estávamos trabalhando nela eu estava lendo assiduamente “História e Consciência de Classe” de Georg Lukács e achei que seria interessante abordar e questionar a relação do homem com o trabalho e o papel que esse último exerce na sociedade contemporânea.

“Empire”

Hélio: Quatro música do disco tiveram seu processo de composição ainda com o Paulo na bateria, essa é uma delas. Inclusive, essa foi a primeira música que fizemos após as gravações do EP Uncritical Receiver e ela esteve conosco desde o nosso primeiro show. Normalmente compomos as bases de uma música juntos no ensaio, mas no caso da “Empire” ela foi apresentada praticamente inteira pelo Fábio. A letra aborda o modo como a cultura – entregue as determinações do mercado – é administrada pelo Estado.

Como consequência, a cultura se torna mera mercadoria e o indivíduo um simples consumidor passivo.

“Unbowed”

Hélio: Pesada e impetuosa. É assim que descrevo essa música. Ela é aquele tipo de música que causa um forte impacto em você desde o princípio. Acredito que seja a mais pesada do Desolation Times. A questão da reforma agrária é a base de toda a letra. A necessidade de uma reestruturação social frente a capitalização e divisão de terras, atrelada a decorrências históricas, indica a urgente necessidade de diálogos e práticas a fim de melhor promover a distribuição de terras e de seu uso.

“Ascending Collapse”

Hélio: Ela foi concebida desde o início para ser uma música instrumental no meio do disco. Como se fosse um breve momento de calma antes de uma tempestade. Em um dado momento do processo, eu até pensei em encaixar algumas falas na música, mas por fim, decidimos seguir com o plano original. Seu título é uma ligeira alteração daquilo que inicialmente seria o título do disco.

“Fiery Uprising”

Hélio: Todo membro da banda tem as músicas que mais gosta de tocar. No caso, essa é uma das músicas em que todos nós temos um grande apreço. Ela tem um pouco de tudo: bases fortes, cadenciadas e rápidas, além de constituir uma letra sólida. Nos tempos em que vivemos, parecia imprescindível abordar uma das piores heranças da Ditadura Militar: a delegação da segurança pública a polícia militar. Essa, treinada para lidar com o cidadão como se esse fosse inimigo, repreende veementemente todo e qualquer ideário dissonante ao do Governo do Estado de forma violenta e selvagem.

“Venom and Misery”

Hélio: Essa é a música mais hardcore do disco e penso que ela seja, de certa forma, uma conexão do disco com o nosso EP. Por trazer elementos de ambos os trabalhos, ela apresenta uma energia singular no disco. Sobre a letra, ela é fortemente influenciada pelo disco Release The Cure do Indecision e é uma das letras que mais gosto de ter escrito.

Ela fala sobre a imensurável dimensão do poder social, econômico e político da indústria farmacêutica na sociedade e de suas inúmeras consequências: carência de remédios especializados em favor de remédios de grande adesão, ocultamento de recursos públicos, monopólios, manipulação de resultados etc.

“Flags on Fire”

Hélio: Definitivamente, antes de entramos em estúdio ela foi a música que mais mudou durante o processo de composição, tornando-se uma variação completamente diferente da proposta inicial. Ela é a música mais metal do disco e foi a última que fizemos, tanto que só terminei as linhas de voz e a letra durante o processo de gravação.

A base da letra é uma crítica ao nacionalismo e as práticas de disseminação de ódio e violência ao diferente. O nacionalismo é uma política que incute fronteiras; que desune, explora, oprime e escraviza sobre a lógica falaciosa de “fatores” históricos, sociais e biológicos.

“Practice of Freedom”

Hélio: É uma das músicas mais fortes do disco e uma das minhas favoritas. Ao meu ver ela tem uma dinâmica interessante: é como se fosse composta por 4 atos sobre uma velocidade decrescente. Ela começa rápida e vai passo a passo desacelerando. A letra tem como base os textos críticos de Jonathan Kozol e Paulo Freire sobre a questão do sistema educacional. Há tempos vivenciamos o desmonte da educação pública por meio do enfraquecimento da rede estadual de ensino, transformando a educação – cujo fundamento serviria para o desenvolvimento de uma consciência crítica – em um falso instrumento de mudança, uma vez que, rasa e mecânica, favorece a alienação do indivíduo a uma realidade acrítica.

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