Muitos compositores da cena alternativa têm medo de arriscar e evoluir. Eles se contentam em remoer relacionamentos malsucedidos e sonhar sobre ir embora de casa – pensamento que, por algum motivo, se tornou mandatório no manual de regras dos “sadboys“, categoria que engloba bandas renomadas como Real Friends e Modern Baseball.

O problema de escrever discos e mais discos criticando todas as pessoas e lugares de sua vida é que, se as coisas continuam ruins mesmo que anos se passem, o problema pode ser você.

O vocalista e guitarrista Cameron Boucher, o baixista e vocalista Ryan McKenna, o guitarrista e vocalista Adam Ackerman e o baterista Charlie Singer não pretendem, com o Sorority Noise, se opor ao estigma social do “estou sempre triste”, popularizado por tantos de seus colegas do emo e do pop punk.

Em Joy, Departed, seu segundo disco de estúdio, o quarteto simplesmente reconhece que, sim, as coisas estão ruins, mas não, nada vai mudar se nada eles fizerem.

O álbum é sequenciado quase como se representasse os altos e baixos que se alternam na vida do jovem inseguro comum: uma faixa repleta de guitarras distorcidas e refrães explosivos é seguida por outra com cordas orquestrais ou violões carregando versos quase sussurrados.

As canções, por si sós, também seguem essa fórmula. “Blissth” começa sutil, como quem empilha mágoa e sofrimento em silêncio; explode, incapaz de continuar fingindo sanidade; e se encerra com os versos “Você sempre será como um pesadelo para mim / E eu sempre estarei implorando pelo sono”, expondo a desesperança de quem reconhece estar se matando aos poucos.

Joy, Departed é desprovido de momentos forçados. Os sentimentos mais amargos são metralhados em rápida sucessão, e o ouvinte não se encontra pescando metáforas e encaixando fragmentos.

“Corrigan”, a faixa mais acessível do disco, começa com “Tudo que quero ser é aquele de quem você sente falta às vezes” e termina com “Eu só espero ser aquele pra quem você liga quando não consegue dormir”.

Patético? Conformista? Talvez. Mas, antes de tudo, Boucher e cia são sinceros à flor da pele – eles podem ter percebido que mascarar a dor acaba sendo mais vergonhoso do que cantá-la nua e crua.

Uma parte do álbum segue nessa toada: exorcizar seus fantasmas interiores, aceitar os resultados obtidos e recolher-se do chão. A outra parte é a reconstrução. “Nosley” remete ao Weezer de Pinkerton, com instrumentação mais radiante do que a letra sugere, e “Art School Wannabe” faz o ouvinte bater o pé como se diante de uma música pop.

Elas fazem contraste com a sombria “Your Soft Blood” e a melancólica “Fuchsia”, exemplificando a inconstância psicológica consequente de um profundo baque emocional e demonstrando a riqueza musical de uma banda formada há apenas dois anos. É como se o Sorority Noise tivesse sido formado para preencher um espaço vago na cena – não há outro disco como Joy, Departed por aí.

E se for preciso resumir a obra em uma canção, “Using” parece a melhor candidata. Vocais em coro e riffs característicos do garage rock servem de motor para uma verdadeira “lista de recomeços”: eles pararam de glorificar a morte, estão se valorizando, e dando mais uma chance ao amor e às boas noites de sono. “Using” soa como o brado de independência do coração curado – ainda remendado, mas curado.

Mas como não podia deixar de ser em um disco essencialmente autobiográfico, tudo culmina na faixa de encerramento.

“When I See You (Timberwolf)” carrega, ao longo de três “movimentos”, todo o peso de um relacionamento abusivo, e o atira de um abismo. O coro de “Se o inferno existe / Então espero que esteja aproveitando sua estadia” simboliza o adeus derradeiro – o exorcismo chegou ao final.

Um tweet recente da banda exclama: “parem de glorificar a depressão, parem de estigmatizar o vício, parem de dizer para as pessoas ‘superarem isso’”. Em seu segundo disco, o grupo atira a tristeza na parede e a manda embora. Este é o álbum de quem reconhece seus problemas, mas está determinado a desfazer-se deles; é a fase seguinte, o passo que a maioria dos compositores derivados da cena alternativa norte-americana tem medo de dar.

Com tantos “revivals” musicais acontecendo simultaneamente, é fácil jogar o Sorority Noise no mesmo balaio dos “garotos tristes” que encontram conforto no desespero do próprio passado. Mas em Joy, Departed, pouco do que o grupo toca soa como uma “reavivação”, um tributo a algo que já aconteceu – está mais para um novo começo.

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