Dingo Bells - Maravilhas da Vida Moderna

Confesso que a primeira vez que ouvi falar do nome Dingo Bells fiz piada: “Como assim uma banda com nome de som de sino de Natal?” . Não sei se dar o nome de uma onomatopeia à banda faz parte do conceito criativo do trio, só sei que a quantidade de comparações que pude fazer ouvindo esse primeiro disco, Maravilhas da Vida Moderna, justificou a escolha, na minha cabeça.

Cheio de metáforas do dia a dia e com um pé bem fincado na realidade, as letras de Maravilhas da Vida Moderna trazem as coisas boas da vida, essas pequenas maravilhas do cotidiano, misturadas a algumas derrotas, tão parte do dia a dia quanto as vitórias.

Em “Eu Vim Passear”, um dos carros chefes do trabalho e música que abre o disco de 11 faixas, o refrão é quase um tapa na cara: “tanta gente buzinando se esqueceu de andar” é o novo gramado ao lado, que parece mais esverdeado que o seu (e que você obviamente esqueceu de olhar). Enquanto a gente fica parado no trânsito, fechado pra vida, esperando as coisas acontecerem e reclamando de tudo, esquecemos que é nossa própria responsabilidade caminhar, olhar para frente, tentar ultrapassar os obstáculos. Exatamente o que acontece no trânsito, para quem não “veio passear”.

O indie rock de Rodrigo Fischmann, Felipe Kautz e Diogo Brochmann vem de Porto Alegre e mistura influências de amigos, como os caras do Apanhador SóMustache & os Apaches Selton, que ajudaram a produzir o trabalho junto à Marcelo Fruet, com gente como The Beatles, Mutantes, Clube da Esquina, Fleet Foxes e David Bowie, entre outros. A temática principal é a vida adulta, esse período em que a gente se perde no meio do que são as responsabilidades de um “ser humano responsável” e as escolhas que a gente “queria fazer de verdade”.

“Mistério dos 30” com “Não tenha medo / Largue o emprego / Vivendo à vista / Pagando em prestação” “Fugiu do Dia” com “Percorreu o fim da estrada e descobriu que não havia nada / Mas sorrindo percebeu que a alegria era a própria estrada”, aconselham, como quem diz que o melhor mesmo é correr atrás do que se quer, ainda que no final não se encontre mais nada novo, além da própria experiência de sair do tal do marasmo.

O grande diferencial do disco é essa a atualidade da pauta, presente em todas as músicas, e a contemporaneidade que cria uma identificação milimetricamente desenhada, feita para qualquer jovem da geração “pré e pós” internet. Impossível não sentir que “Dinossauros”, com sua guitarra demarcando uma das mais psicodélicas canções do trabalho, a definitiva “Hoje o Céu” e a melancólica “Funcionário do Mês” não falam diretamente com você, que ainda está no meio do caminho entre ser o que o mundo sonhou e o que você sonhou para si mesmo.

Um lado ainda mais melancólico invade o disco chegando a seu final. “Anéis de Saturno”, responsável pela pegada cosmotrônica do disco e “Todo Nó” dão às mãos para encerrar o álbum com a tristeza de quem ainda se deixa limitar pelas amarras que o dia a dia nos impõe. Neste sentido, a última faixa se transforma em uma nova “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, esta voltada ao mundo corporativo.

Se você está chegando aos 30 e ainda não entendeu que bagunça é essa que a gente chama de mundo, esse disco é para você.

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