Tom DeLonge lança música solo

2015 tem sido um ano agitado para Tom DeLonge.

Tudo começou quando o Blink-182, nas figuras de Travis Barker e Mark Hoppus, anunciou que ele estava fora da banda e que seria substituído por Matt Skiba em compromissos agendados pelo grupo.

O motivo seria uma nova desistência de Tom em trabalhar com o Blink depois dele ter se comprometido a gravar um novo disco e excursionar com o trio e, em cima da hora, pedir para seu empresário enviar um e-mail para o grupo avisando que estava fora. E pior, não foi a primeira vez.

Como “resposta”, DeLonge avisou que lançaria quatro discos durante o ano, e que nos próximos meses se envolveria no lançamento de 15 livros, e por isso não poderia se comprometer com o Blink para um ano de gravações e shows.

Esse episódio todo mostra exatamente o comportamento de Tom desde que algo aconteceu e mudou a sua cabeça completamente: de rei do pop-punk com piadas sobre sexo e riffs de guitarra mais divertidos do que complexos, ele passou a ser um sujeito megalomaníaco; disse que sua então nova banda Angels And Airwaves, formada em 2005, era a melhor coisa do planeta e iria lançar discos que mudariam a história do rock’n’roll. O que obviamente não aconteceu.

São dez anos desde a fundação do AVA e de lá pra cá o que vimos foi isso, Tom criando músicas cheias de camadas, elementos eletrônicos e assuntos espaciais, sempre acompanhados de filmes, livros, histórias e mais histórias. Nada contra, desde que a fórmula não tivesse enjoado e, principalmente, seu autor não se tornasse uma caricatura.

Dito isso tudo, vamos ao assunto principal, é claro, o disco To The Stars… Demos, Odds and Ends.

O primeiro dos quatro álbuns prometidos para o ano é claramente uma tentativa de provar que “estava certo”, e que vinha trabalhando em sons do Blink. Como o nome diz, são demos e ideias que teoricamente estavam sendo moldadas para um novo disco do trio em que, ironicamente, DeLonge se recusava a entrar em estúdio para gravar.

Como era de se esperar, as oito faixas do trabalho são um apanhado geral de material que não tem uma sequência e história, o que já prejudica a concepção do disco como um álbum propriamente dito.

O problema é que a maioria das canções soa como Tom tentando se repetir em várias de suas frentes. Há pouquíssima novidade e o que temos no primeiro disco solo do músico é um trabalho baseado no que ele já fez no passado, mas sem nenhum tipo de apelo que o torne interessante.

“New World” abre o disco como Tom já tinha feito no último disco do Blink, Neighborhoods, onde misturou elementos do AVA com o de sua ex banda e até cria um material que empolga, mas peca em sua estrutura: quando parece que vai a algum lugar, faz uso repetido de sua introdução e do refrão, passando a clara impressão de que foi terminada às pressas.

“An Endless Summer” traz, mais uma vez, os efeitos de voz e instrumentais com os quais DeLonge se acostumou e empurrou goela abaixo para os ouvintes na maioria das músicas que tem lançado, mas ainda assim teria potencial para se tornar uma boa música do Blink. É a melhor do álbum, sem dúvidas, mas sem Travis e Mark, a canção também entra para a lista do que Tom já fez em sua carreira. Falta algo de novo e interessante.

Enquanto “Suburban Kings” não leva o disco a lugar nenhum, a balada “The Invisible Parade” pelo menos mostra uma tentativa de novos horizontes, já que o vocal de Tom sai do convencional. Ainda que seja uma tradicional canção de voz e violão, é um alívio entre tantos outros elementos repetidos.

A maior prova de que a criatividade de Tom está em baixa no seu primeiro disco solo é “Circle-Jerk-Pit”, mais uma canção onde ele parece fazer questão de dizer que ainda ouve/toca punk rock, mesmo que seus últimos lançamentos mostrem o contrário.

Assim como fez em “My First Punk Song” no ótimo disco do Box Car Racer de 2002, ele grava um som baseado em três acordes com vocais e baterias rápidos, repetindo a fórmula de jogar uma música do estilo no meio de um disco que está longe dele. O resultado, infelizmente, não agrada.

“Landscapes” é o resumo da carreira de Tom nos últimos anos, com uma base cheia de efeitos servindo como pano de fundo para uma curta narrativa que se encerra em menos de dois minutos. Levando em consideração que o disco tem oito faixas, uma delas ser, basicamente um interlúdio, é um baita desperdício.

“Animals” repete a fórmula do Angels And Airwaves com as semi baladas cheias de referências ao espaço, à luz e a vida, enquanto o contraste com a última canção é gigantesco, mais uma vez, dessa vez nas letras.

“Golden Showers in the Golden State” é mais uma tentativa de Tom em mostrar que voltou ao passado com as piadas adolescentes, abrindo a canção com “Seu pai pode chupar meu pau / Sua mãe pode tocar no meu pinto.”

Falta coesão em To The Stars… e o que sobra é uma tentativa desesperada do músico tentando mostrar que vinha trabalhando em canções para o Blink, ao contrário do que seus colegas de banda afirmaram.

Ainda que realmente estivesse, as canções mostram que o trio teria um árduo trabalho na tentativa de trabalhar em cima delas e transformá-las em bons materiais.

Ouvindo o álbum, as repetições de ideias utilizadas à exaustão e as tentativas de voltar à adolescência, fica claro que Tom DeLonge se considera um gênio da música ao mesmo tempo em que sente a necessidade de provar que ainda pode ser aquele adolescente do final dos Anos 90 que corria pelado pelas ruas da cidade como no clipe de “What’s My Age Again?”

A partir desse disco, é possível imaginar que o processo de gravação do último registro do Blink-182, Neighborhoods (2011) deve ter seguido uma linha parecida, e acaba soando como músicas do Angels And Airwaves de um lado e do +44 (projeto de Mark Hoppus com Travis Barker) do outro.

Um novo disco da banda em nova formação seria muito bem vindo para que a gente pudesse entender como o outro lado do grupo se comporta longe das ideias pouco maleáveis de DeLonge.

Do lado de cá, a coisa está feia.

Tom DeLonge - To The Stars... Demos, Odds and Ends

 

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