Erasmo Carlos em Porto Alegre

Fotos por Doni Maciel

Texto por Paulo James

“Erasmo! Vai lá em casa”, grita uma fã, aproveitando aquele silêncio semi-tenso que rola entre um som e outro. “Manda o endereço”, devolve de bate-pronto o Tremendão, mostrando que um dos principais fundadores do Rock Brasileiro não está de brincadeira.

E essa foi apenas uma das “rasgadas” ouvidas durante o show “Gigante Gentil”, que rolou no Sábado, 01 de novembro no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre. Com casa cheia e uma plateia predominantemente veterana (e feminina), foram várias as declarações de amor ao cantor, que sentenciou: “Aqui vivem as mulheres mais bonitas do Brasil!”

O Rock’n’Roll corre solto nas veias de Carlos, Erasmo, 50 anos de estrada. Quem leu a biografia “Minha Fama de Mau” (2009) sabe que as boas histórias não são poucas. A banda afiada mostra esse feeling no palco, e a “estileira” do crooner não deixa dúvidas sobre a sua tão falada “fama”.

Logo de cara, a faixa título do novo álbum, “Gigante Gentil”, vem pesada, cadenciada, repleta de guitarras – em certos momentos do show, são três delas soando em conjunto.

Ao fundo, é projetada uma animação malandra, estilo comics, e ele próprio dá a morta: “Gigante Gentil” é o apelido que ganhou da roqueira Lucinha Turnbull lá nos idos dos anos 70. Lucinha, pra quem não sabe, é considerada a primeira guitarrista do Brasil, e formou parceria com Rita Lee no projeto Cilibrinas do Éden, que gravou um único (e engavetado) disco em 1973.

“Sou Uma Criança, Não Entendo Nada” e especialmente “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” vêm igualmente fortes e intensas, assim como a recente “Jogo Sujo”.

Erasmo Carlos em Porto Alegre

Da Jovem Guarda, o cantor também resgata “A Carta”, “Gatinha Manhosa”, “Minha Fama de Mau”, “É Proibido Fumar” e “Festa de Arromba”. Foi nesse contexto que tomou forma o Rock cantado em português, primeiro com versões de sucessos gringos e depois com as composições originais. E Erasmo se orgulha, com toda a razão, de ser um dos pais dessa criança.

O Tremendão demonstra interesse pelo mundo virtual. Conta que a inspiração para a música “Gigante Gentil” vem de um estranhamento em relação ao tiroteio de opiniões e ofensas proferidas nas redes sociais. “Agora me acostumei”, diz ele.

“Amor na Rede”, parceria com Nelson Motta, é uma crônica das relações amorosas na Web, e “Colapso” questiona a dependência extrema à tecnologia. O best-seller “50 Tons de Cinza” virou inspiração para “50 Tons de Cor”, e Erasmo se mostra feliz em ter realizado um antigo sonho: a primeira parceria com Caetano Veloso, “Sentimentos Complicados”.

Mesmo com tantos sucessos certeiros pra tirar da manga, o repertório comprova que a intenção roqueira de correr riscos sobrevive. “Sentado à Beira do Caminho”, “É Preciso Saber Viver” e “Além do Horizonte” misturam-se a canções mais obscuras como “Grilos” e “Dois Animais na Selva Suja da Rua” (com a devida menção ao autor Taiguara).

Erasmo Carlos em Porto Alegre

“Mesmo Que Seja Eu” e “Mulher” emocionam os fãs que têm os big hits na ponta da língua, enquanto as músicas da nova safra, menos conhecidas, são acompanhadas com atenção e respeito.

Independente disso, ao final de cada canção o ritual se repete: o público aplaude, e logo recebe a retribuição do Gigante Gentil, que coloca a mão por dentro do casaco e simula a batida forte do coração: “Sou mimado por culpa de vocês”, deixa escapar, na despedida.

Erasmo Carlos em Porto Alegre

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