The Smashing Pumpkins

Prestes a voltar ao Brasil como um dos headliners da versão brasileira do Lollapalooza, o The Smashing Pumpkins carrega dois legados simultaneamente: o de ter sido uma das maiores e melhores bandas dos anos noventa, e o de ter se tornado uma reles sombra do que um dia foi após ser reativada por Billy Corgan em 2007. Workaholic exigente e um frontman controlador, Corgan é hoje o único integrante da emblemática formação original, e apesar das críticas de muitos fãs, assumiu a banda como um projeto solo onde toma todas as decisões musicais, estéticas e burocráticas sem questionamentos.

Na prática, são duas bandas diferentes, apesar do mesmo nome. A primeira, por mais que também fosse comandada ferozmente por Corgan, ajudou a construir o distópico panorama do rock noventista simplesmente por estar em atividade. Já a segunda está eternamente vinculada à nostalgia da primeira, e mesmo com a insistência do vocalista em produzir material novo, está fadada a comparações com os primeiros trabalhos, e mesmo que lançasse um álbum digno de tais analogias, está há muito tempo distante do foco de interesse dos jovens desta desatenta geração.

Do despretensioso Gish a Monuments to an Elegy, o novo disco da banda, o TMDQA! escolheu os destaques dos álbuns e EPs de estúdio do The Smashing Pumpkins.

Smashing Pumpkins - Gish

Gish (1991)

“Daydream/I’m Going Crazy”

Ofuscado pela explosão da cena de Seattle na época do lançamento e pelo sucesso meteórico de Siamese Dream (1993), o álbum de estreia do The Smashing Pumpkins é subestimado até por alguns fãs da banda. Apesar de evidenciar a inexperiência do quarteto e de Billy Corgan como letrista, Gish mostra o potencial lapidado nos trabalhos seguintes de forma ainda totalmente espontânea e crua, e botou o grupo oficialmente no mapa da prolífica cena de rock alternativo do início dos anos 1990.

O crescendo espetacular de “Rhinoceros” ou a fúria despretensiosa de “Tristessa” merecem louvor, mas a faixa que mais chama atenção em Gish é justamente a última, “Daydream”. Escrita por Billy Corgan sobre a experiência de voltar a morar com o pai, que o abandonou quando Billy tinha apenas 8 anos de idade, a balada acústica ecoa as harmonias do My Bloody Valentine – obsessão de Corgan à época – e ganha pontos por ser uma das poucas canções do TSP com os vocais sussurrados da (então) baixista D’arcy Wretzky.

Ao fim de “Daydream”, a banda incluiu “I’m Going Crazy”, uma faixa escondida gravada de brincadeira pelo grupo no fim das gravações do álbum.

Smashing Pumpkins - Siamese Dream

Siamese Dream (1993)

“Mayonaise”

Siamese Dream é o álbum de uma geração. As treze faixas do disco são uma bíblia da desesperança do início da vida adulta, conduzida por guitarras que alternam perfeitamente a beleza etérea dos timbres espaciais com a sujeira e a grandiosidade dos pedais de fuzz, muito fuzz, bem amarrada pela produção de Butch Vig.

Em Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) Corgan pecou por não aparar os excessos, e a confiança para o exagero veio justamente da boa recepção de Siamese Dream, álbum responsável por nos apresentar a clássicos como “Today”, “Cherub Rock” e “Disarm”, além de faixas menos conhecidas – mas não menos inspiradas – como “Soma”, “Quiet”, “Geek U.S.A.” e, claro, a excepcional “Mayonaise”.

Os versos desconexos e o nome aleatório com um erro proposital de ortografia dão um ar misterioso à faixa, conhecida pela introdução suave composta pelo guitarrista James Iha e pelo refrão potente, marcado pelos apitos de uma guitarra defeituosa que Corgan comprou por US$ 65 pouco antes da gravação do álbum. Um clássico.

Smashing Pumpkins - Pisces Iscariot

Pisces Iscariot (1994)

“Starla”

Para capitalizar em cima do sucesso de Siamese Dream enquanto o The Smashing Pumpkins preparava o terceiro álbum de estúdio, a Virgin encomendou um disco com sobras de estúdio e b-sides dos singles de Gish e Siamese Dream. Dadas as circunstâncias, Pisces Iscariot é muito superior aos típicos compilados de sobras, e diversas faixas do registro mereciam posições mais justas no catálogo do grupo.

Gravada junto com “Plume” para o single inglês de “I Am One”, “Starla” é uma tour de force com mais de 11 minutos de duração, e mostra precisamente a evolução do quarteto entre as sessões de Gish e as de Siamese Dream. O nome da música é outra obra do acaso. Corgan batizou a faixa após conhecer uma moça chamada Starla, mas ao reencontrá-la anos depois, descobriu que o nome era fruto de sua imaginação; ela na verdade se chamava Darla.

Smashing Pumpkins - Mellon Collie and the Infinite Sadness

Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995)

“Fuck You (An Ode To No One)”

Com o fim do Nirvana e as dificuldades do britpop inglês em entrar no mercado norte-americano, o posto de maior banda de rock do planeta estava vago. Corgan, ambicioso e megalomaníaco, não perdeu a chance de tomá-lo para si e desenvolveu um projeto colossal com a meta de transformá-lo no equivalente noventista a The Wall, do Pink Floyd. Assim surgiu Mellon Collie and the Infinite Sadness, lançado em outubro de 1995.

O projeto nababesco resultou em um disco duplo com 28 músicas e infinitas sobras, lançadas posteriormente no box The Aeroplane Flies High (1996) e nos relançamentos de MCIS e TAFH em 2012 e 2013, respectivamente. Dividido em “Dawn to Dusk” [“Amanhecer ao Anoitecer”] e “Twilight to Starlight” [“Crepúsculo à Luz das Estrelas”], MCIS é a tentativa (confusa) de Corgan de despedir-se da juventude ao mesmo tempo em que abraça a maturidade, e poucas expressões representam tão bem essa bifurcação quanto um belo “foda-se”. Daí veio “Fuck You (An Ode to No One)”.

Uma das faixas mais pesadas de toda a carreira da banda, “Fuck You (An Ode to No One)” destoa da imponência harmônica de “1979”, “Tonight, Tonight” ou “Cupid de Locke”, mas compensa pelos riffs impetuosos e pela letra bem construída, que diz em menos de 5 minutos o que Corgan tentou dizer de mil outras formas antes e depois de concluí-la.

Smashing Pumpkins - The Aeroplane Flies High

The Aeroplane Flies High (1996)

“Set The Ray to Jerry”

Em um movimento similar ao que motivou o lançamento de Pisces Iscariot em 1994, o grupo reuniu os cinco singles extraídos de Mellon Collie and the Infinite Sadness e os respectivos b-sides em um box luxuoso lançado em 1996. Assim como a “obra-mãe”, The Aeroplane Flies High é um tijolo de exageros, mas entre devaneios dispensáveis como “Pastichio Medley” há algumas preciosidades, como a encantadora “Set the Ray to Jerry”.

Simples e emocionante ao mesmo tempo, “Set the Ray to Jerry” é uma das músicas mais bonitas de toda a produção de Billy Corgan. O embrião da música surgiu na turnê de Gish, mas a versão definitiva surgiu apenas nas sessões de MCIS e só não entrou no álbum por veto de Flood, produtor do disco. Uma pena; o maximalismo de MCIS certamente se beneficiaria de uma canção despida de pompas e exibicionismos como esta.

Smashing Pumpkins - Adore

Adore (1998)

“For Martha”

O perfeccionismo e a obsessão de Billy Corgan em centralizar o direcionamento artístico do The Smashing Pumpkins começou a demonstrar sinais de rachadura após o lançamento de Mellon Collie and the Infinite Sadness. Adore é a reflexão dessas feridas. Apesar de lançado apenas três anos depois do antecessor, o álbum exibe uma banda completamente diferente, guiada pelas variações emocionais de Corgan e desfalcada pelo afastamento do baterista Jimmy Chamberlin.

Irregular e melancólico, Adore tem bons momentos. O melhor deles é “For Martha”, uma balada com mais de 8 minutos guiada pelo piano de Corgan, com versos dedicados à mãe dele, Martha, que morreu de câncer em 1996. Uma curiosidade: a bateria de “For Martha” foi gravada por Matt Cameron, que na época vivia um período sabático entre a separação do Soundgarden e a entrada dele no Pearl Jam, em 1998.

Smashing Pumpkins - Machina

Machina /The Machines of God (2000)

“Age of Innocence”

A languidez de Adore expôs o óbvio: o The Smashing Pumpkins estava muito próximo do fim. Abalado pelos contratempos da fama e pela péssima relação com os demais integrantes, Billy Corgan decidiu acabar com a banda, e passou a desenvolver o (megalomaníaco, claro) epitáfio do quarteto: um novo álbum duplo onde abordaria os caminhos tortuosos do desmantelamento do quarteto através de Glass, um rockstar fictício inspirado nele mesmo, e seu grupo The Machines of God. O problema foi que a banda não aguentou nem terminar o disco. D’arcy deixou o TSP no meio das gravações do novo álbum, e o projeto conceitual desmoronou em si mesmo.

Sem apoio da gravadora para lançar um disco duplo, Corgan passou a focar em um álbum só, que virou Machina/The Machines of God. Subestimado pela produção grandiosa, polida e excessivamente comercial, Machina esconde algumas pequenas pérolas do repertório dos Pumpkins. O romantismo obscuro de “Stand Inside Your Love” e “This Time”, uma declaração de amor de Corgan à banda, merecem destaque. Mas o grande trunfo do álbum é “Age of Innocence”, última faixa do álbum, onde Billy fala abertamente sobre o fim: “Because for the moment we are free, we seek to bind our release / Too young to die, too rich to care, too fucked to swear that I was there” [Porque agora estamos livres, queremos aliar a nossa libertação / Jovens demais para morrer, ricos demais para se importar, fodidos demais para jurar que eu estive lá].

Smashing Pumpkins - Machina II

Machina II/The Friends & Enemies Of Modern Music (2000)

“Dross”

Rotulado erroneamente como um disco de sobras do projeto inicial de Machina, Machina II/The Friends & Enemies Of Modern Music saiu poucos meses após o primeiro volume, e ironicamente mostra uma banda extremamente focada e revigorada, livre do peso da despedida, que ficou todo concentrado no primeiro volume. Descontente com a decisão da gravadora em não apoiar o lançamento de um disco duplo, Corgan disponibilizou o álbum de graça no site da banda (em 2000, garotada!), acompanhado por três EPs com mais inéditas e covers surpreendentes como o de “Soul Power”, de James Brown.

“Dross”, faixa três do disco, resgata os riffs pesadíssimos da época de Mellon Collie and the Infinite Sadness com a arrogância costumeira de Corgan em versos como “you say I’m tragic, I say it’s magic, kid / You say I’m lucky, we all know it’s in the cards”. Aí sim, uma despedida apropriada.

Smashing Pumpkins - Zeitgeist

Zeitgeist (2007)

“United States”

Depois de falhar em manter outro grupo unido, o Zwan, e de lançar um disco solo repleto de sintetizadores, Corgan decidiu reativar o The Smashing Pumpkins, a partir da premissa de que, por ter sido o mentor criativo do grupo, ele era o detentor do legado dos Pumpkins por direito. Dessa vez, no entanto, decidiu não convidar James Iha nem D’arcy Wretzky para o grupo, e compôs Zeitgeist apenas com a ajuda de seu braço direito Jimmy Chamberlin. Eventualmente Corgan convidou Jeff Schroeder, outro guitarrista com traços asiáticos, e a baixista Ginger Reyes, em uma estranha tentativa de ironizar a importância de James e D’arcy na primeira formação.

Zeitgeist é o álbum mais pesado do The Smashing Pumpkins. Corgan se deixou influenciar pela paranoia apocalíptica dos Estados Unidos depois do 11 de Setembro e das guerras no Afeganistão e no Iraque, e criou um disco tenso e de composições pouco inspiradas envoltas em camadas de overdubs infinitos de guitarras e distorção no talo do início ao fim. Entre os poucos destaques está “United States”, uma epopeia de mais de nove minutos construída sobre os double paradiddles de Chamberlin, e timbres dignos do drone metal.

Smashing Pumpkins - American Gothic

American Gothic EP (2008)

“Pox”

Poucos meses depois do lançamento de Zeitgeist, Corgan decidiu amenizar o peso desproposital do álbum com um EP totalmente acústico. Sem pressa e sem a obrigação de cumprir expectativas, American Gothic trouxe boas ideias para o repertório da banda e incorporou de vez a influência do folk apresentada com discrição nos trabalhos anteriores.

Entre a delicadeza de “Sunkissed” e “The Rose March” e do mais do mesmo de “Again, Again, Again (The Crux)”, a melhor é mesmo “Pox”, que com um arranjo elétrico poderia rivalizar com boa parte do tracklist de Machina I & II.

Smashing Pumpkins - songs for a sailor

Teargarden by Kaleidyscope Vol. 1: Songs For a Sailor (2010)

“A Song For a Son”

Depois de viajar pelos Estados Unidos em uma extensa turnê de 20 anos marcada pelo objetivo de irritar os fãs casuais com canções como “Superchrist” e “Gossamer” – uma jam instrumental cuja duração variava entre 12 e 40 minutos, dependendo do humor de Corgan – o The Smashing Pumpkins decidiu abolir a gravação de novos álbuns de seu futuro. Billy anunciou o projeto Teagarden by Kaleidyscope, sob o qual lançaria 44 singles ao longo dos anos seguintes, a serem posteriormente reunidos em EPs. Descontente com os rumos da banda, Chamberlin saiu outra vez do TSP, e deixou Corgan como o único remanescente da formação original.

O primeiro volume dos novos EPs saiu em março de 2010, intitulado Songs for a Sailor. Apoiado desta vez por Schroeder, pela baixista Nicole Fiorentino e pelo baterista Mike Byrne (então com 20 anos), Corgan apostou no rock clássico com elementos de folk e progressivo para criar um conjunto de canções dispersas e aquém de toda a discografia anterior. “A Song For a Son”, faixa um do EP, pelo menos serviu para apresentar o virtuosismo de Byrne.

Smashing Pumpkins - Teargarden By Kaleidyscope Vol. II The Solstice Bare

Teargarden by Kaleidyscope Vol. 2: The Solstice Bare (2010)

“Tom Tom”

Na segunda leva da saga Teagarden by Kaleidyscope, The Solstice Bare, Corgan continuou a confundir os fãs com composições confusas e sem poder de engajamento, mas conseguiu melhorar em relação a Songs For a Sailor. “Tom Tom”, por exemplo, não inova, mas ecoa bons momentos da história dos Pumpkins.

The Smashing Pumpkins - Oceania

Oceania (2012)

“Violet Rays”

Durante o processo de composição dos singles seguintes de Teagarden by Kaleidyscope, Corgan percebeu uma certa unidade nas músicas e decidiu suspender indefinidamente o lançamento de singles para se dedicar a um álbum pela primeira vez em cinco anos. O resultado surpreendeu: Oceania não é páreo para nenhum dos álbuns lançados na primeira encarnação da banda, mas demonstrou a habilidade do compositor em reunir riffs de heavy metal com a delicadeza do dream pop e as influências recentes de prog e folk em um amálgama no mínimo interessante. “Violet Rays”, por exemplo, lembra bons momentos do Zwan ao não depender de distorções furiosas para ganhar a atenção do ouvinte.

smashing pumpkins - monuments to an elegy

Monuments to an Elegy (2014)

“Tiberius”

No início deste ano, Corgan confirmou o lançamento de dois novos álbuns do The Smashing Pumpkins no início de 2015, ambos ainda parte do projeto Teagarden by Kaleidyscope: Monuments to an Elegy e Day For Night.

O primeiro teve o lançamento antecipado e sai no dia 09 de dezembro deste ano. Inquieto, Corgan demitiu Mike Byrne sem entrar em detalhes dos motivos para tal, e convocou o amigo Tommy Lee (Mötley Crüe) para gravar as baterias do disco. Das três músicas lançadas até agora, a mais elogiada foi “Tiberius”, guiada por sintetizadores cobertos por linhas pujantes de guitarra e uma ótima performance de Tommy Lee.

Uma música de cada disco

Veja outros capítulos da série “uma música de cada disco” com bandas como Hole, Green Day, Weezer, The Black Keys e mais clicando aqui.

 

OUÇA AGORA MESMO A PLAYLIST TMDQA! ALTERNATIVO

Clássicos, lançamentos, Indie, Punk, Metal e muito mais: ouça agora mesmo a Playlist TMDQA! Alternativo e siga o TMDQA! no Spotify!