Linkin Park 2014

Linkin Park 2014

Na semana passada, o Linkin Park lançou The Hunting Party, o sexto álbum de estúdio da banda, e uma promessa de retorno ao som pesado dos primeiros trabalhos do sexteto californiano. Após privilegiar a influência da música eletrônica em Living Things (2012), o grupo optou por arranjos mais orgânicos, com menos timbres digitais e pós-produção em computador.

Se deu certo ou não, depende do seu ponto de vista, mas a disposição do Linkin Park em não se acomodar é incontestável, e mesmo olhando para trás, conseguiu aliar as influências consolidadas nos discos anteriores com novos elementos. Enquanto o Uruguai eliminava a Inglaterra da primeira fase da Copa do Mundo 2014, o baterista Rob Bourdon (o último da esquerda para a direita) bateu um papo com a reportagem do Tenho Mais Discos Que Amigos! e detalhou as intenções do Linkin Park com o novo trabalho, as mudanças no processo de composição das músicas e a possibilidade de novos shows no Brasil. Confira:

TMDQA! – E aí, Rob! Acompanhando a Copa do Mundo? No Brasil não se fala em outra coisa.

Rob Bourdon – Eu sei! Meu primo tem visto os jogos e me falou que está insano. Acabei de voltar da Europa com a banda, então vi alguns jogos enquanto estava lá porque é impossível não assistir a nada, os jogos estão sempre na TV, em todo lugar (risos). Acabei de voltar pra casa, então estou meio por fora. Mas estou louco para me atualizar sobre o que está rolando.

TMDQA! – Legal! Boa sorte para os Estados Unidos. Bem, mas vamos falar sobre o novo álbum de vocês, The Hunting Party. Mesmo incorporando influências de álbuns mais recentes, o novo disco lembra muito o começo do Linkin Park. Isso foi intencional?

RB – Com certeza, essa foi a nossa intenção desde o começo das gravações. Quando Mike [Shinoda, vocalista da banda e um dos produtores de The Hunting Party] começou a escrever as músicas para esse álbum, todas soavam mais ou menos como o que fizemos em Living Things, pendendo mais para o nosso lado eletrônico ou pop. E chegamos a um ponto em que Mike confessou que as músicas novas não eram boas o bastante, que faltava algo, e foi aí que decidimos fazer canções mais pesadas. Ele trouxe novas ideias, bem mais pesadas – “Guilty All The Same” era uma delas – e todos nós concordamos que aquele deveria ser o caminho a ser seguido. Nos sentimos mais inspirados a resgatar o nosso lado mais roqueiro.

TMDQA! – E houve algum tipo de preocupação de que as músicas novas não soassem originais, justamente por resgatar esses elementos do início da carreira da banda?

RB – Acho que nunca nos preocupamos com isso, porque quando começamos a escrever as músicas novas elas soavam como uma evolução natural do nosso som. Não acho que as músicas novas encaixariam bem em álbuns como Hybrid Theory ou Meteora, com certeza há algo de novo e diferente nelas.

TMDQA! – Há uma nítida influência de punk e hardcore em faixas como “War” e “A Line in The Sand”. De onde veio isso?

RB – Bem, eu sei que o Chester [Bennington, vocalista principal] tem muita influência desse tipo de som, e todos nós nos envolvemos com o punk rock em algum momento de nossas carreiras. Antes de entrar para o Linkin Park eu toquei em bandas que faziam covers de Suicidal Tendencies e Bad Religion, e durante um tempo curti tocar esse tipo de música. Mas essas músicas foram divertidas de fazer por soarem bem agressivas e cruas. O take de bateria de “War”, por exemplo, é todo de um único take, e não um recorte dos melhores takes de gravação, como a gente geralmente faz. Não é o take perfeito, mas é repleto de energia, e foi muito legal fazer algo em contraponto aos sons mais polidos, mais redondos que costumamos fazer.

TMDQA! – De fato os sons de bateria nesse disco soam muito mais “reais” do que antes, e há menos interferência de batidas eletrônicas.

RB – Sim, o som “real” de bateria é muito presente no álbum, e nos preocupamos muito em fazer a bateria soar bem. Usei umas três baterias diferentes durante as gravações, e sempre trocávamos a caixa, os tons e os pratos de acordo com a música, para ter certeza que tínhamos o melhor som possível à nossa disposição. E eu acredito que o som da bateria nesse álbum dá a sensação mais “orgânica” que buscávamos quando começamos a gravá-lo.

TMDQA! – Nos álbuns anteriores vocês escreviam e arranjavam as músicas antes de entrarem em estúdio para gravá-las, mas desta vez vocês compuseram juntos, dentro do estúdio. A mudança nesse processo ajudou a deixar The Hunting Party mais “orgânico”?

RB – Ah, sim. Uma coisa que fizemos diferente desta vez foi que fazíamos jam sessions durante a gravação, e Tom Morello [guitarrista do Rage Against the Machine, que participa de “Drawbar”] nos ensinou muito a trabalhar dessa forma, a apenas tocar juntos e ver o que sai dali. Esse processo nos ajudou a ter muitas ideias de arranjo, e conseguimos captar um pouco disso tudo no álbum. Além disso, na hora de gravar, tocávamos as músicas inteiras, em vez de pequenos trechos de cada vez, para tentar captar a energia de tocar ao vivo. Foi uma abordagem muito diferente e que exigiu mais tempo de dedicação aos nossos instrumentos que em edição nos computadores.

TMDQA! – Você mencionou Tom Morello, e além dele o álbum reúne vários convidados especiais, como Daron Malakian do System of a Down. Como surgiu a ideia de convidá-los?

RB – A ideia de envolver todos os convidados foi muito natural, todas as vezes. Uma das diretrizes que tivemos durante a gravação do álbum era a de manter a mente aberta para trabalhar com outros músicos se a oportunidade surgisse. Quando começamos a trabalhar em “All For Nothing”, por exemplo, nos lembramos do trabalho do Page Hamilton [guitarrista e vocalista do Helmet], e pensamos: “por que não o convidamos logo, em vez de tentar soar como ele?”. Ligamos para o Page e ele ficou super feliz com o convite, foi super legal com a gente. No caso do Daron, bem… Amamos o System of a Down, acho que eles são uma das melhores bandas ao vivo da nossa geração. Mike e Daron se juntaram sem nenhuma ideia, e escreveram “Rebellion” do zero. Foi um prazer escrever com um compositor incrível como ele. O Tom tem uma pequena participação no disco, em um interlúdio, mas a influência dele no álbum como um todo foi essencial, por nos fazer olhar para o processo de composição de um jeito diferente.

TMDQA! – O Linkin Park é uma das poucas bandas de rock que conseguem se manter no topo das paradas, e lançar álbuns mundialmente bem-sucedidos com frequência. Na sua opinião, vivemos um momento ruim para o rock?

RB – Definitivamente não há muita atenção direcionada para o rock hoje em dia, as pessoas prestam mais atenção no pop ou coisas assim. A gente sentiu isso antes de começar a trabalhar nesse álbum, e uma parte da razão que nos levou a fazer um disco “de rock” veio daí. Há algo muito único e especial em uma banda tocando, em várias pessoas se unindo para gravar um disco. Não que música feita de outras formas não seja boa, mas é impossível reproduzir o feeling de 5 ou 6 pessoas juntas em cima de um palco. E esperamos que o novo álbum influencie mais pessoas a se interessar pelo rock, porque vejo muitas bandas legais por aí, mas há uma sensação de que não há muito acontecendo nesse sentido.

TMDQA! – Há rumores sobre uma possível vinda do Linkin Park ao Brasil no fim deste ano. É verdade? Os fãs devem começar a economizar para os ingressos?

RB – Não temos nada fechado oficialmente, mas eu pessoalmente adoro tocar no Brasil, todos os nossos shows por aí foram incríveis, então espero que nós consigamos fazer alguns shows por aí nessa turnê. Estou com os dedos cruzados. Eu ficaria surpreso se isso não acontecesse, na verdade.

TMDQA! – Bom, e para finalizar, você tem mais discos ou mais amigos?

RB – Mais discos, com certeza. Sou muito exigente ao escolher meus amigos, e bem menos com meus discos (risos). Gosto de ouvir muitos estilos de música diferentes, então… É, com certeza tenho mais discos que amigos.

The Hunting Party está disponível em CD, LP e mp3. O álbum também pode ser ouvido em serviços de streaming como o Spotify ou o Deezer. Leia a nossa crítica aqui.

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