Móveis Coloniais de Acaju por Diego Bresani

Móveis Coloniais de Acaju por Diego Bresani

Quando o Móveis Coloniais de Acaju surgiu, bem no fim da década de 1990, o mercado fonográfico brasileiro era completamente diferente. Grupos como Raimundos e O Rappa vendiam milhões de discos no mainstream, enquanto o cenário independente começava a entender o que era a internet, e qual seria o impacto dela na indústria. O sonho da maior parte das bandas em atividade na época era assinar um contrato com uma grande gravadora, e o maior inimigo delas era a pirataria física – aqueles CDs graváveis à venda em qualquer esquina por R$ 0,50, e revendidos a R$ 5 recheados de discografias inteiras.

De lá até aqui (!), muita coisa mudou. As referências e as perspectivas musicais são completamente diferentes, e nesse meio tempo o Móveis se tornou uma das maiores bandas do país. O grupo desenvolveu um modelo de autogestão que virou exemplo para diversos outras bandas, sofreu uma série de impactantes mudanças internas, e lança o terceiro álbum, De Lá Até Aqui, na próxima semana. Ironicamente, é o primeiro por uma grande gravadora, a Som Livre.

De Lá Até Aqui é um álbum muito mais centrado, focado e autônomo que os anteriores; autônomo porque talvez seja o primeiro álbum do Móveis a funcionar por conta própria. A banda estourou nacionalmente em 2005 com o lançamento de Idem, e um show caótico e incendiário que viajou o Brasil nos anos seguintes. O problema é que Idem não conseguiu captar a experiência fantástica que era assistir a um show do grupo, e C_mpl_te, lançado em 2009, muito menos.

Mas neste novo trabalho a banda parece ter compreendido que o show e o álbum são duas mídias completamente diferentes e complementares, não reproduções fieis uma da outra. O filtro de influências, antes escasso, funcionou melhor desta vez, e selecionou como fontes de inspiração a segunda fase da carreira dos Beatles, o rock nacional dos anos 1960 e 1970 e a soul music popularizada na mesma época. Os instrumentos de sopro, antes na linha de frente do Móveis, ficaram um pouco mais restritas, responsáveis por pontuações e ambiências. Perde-se um pouco do charme, é verdade, mas o grupo ganha com canções melhor estruturadas.

A primeira metade do álbum é mais contida. O disco começa com a bela “Sede de Chuva”, que conversa bem com “Adeus”, faixa que encerrou C_mpl_te, seguida pela roqueira “Vejo em Teu Olhar” e pela sessentista “Sem Fim”. O clima começa a esquentar na ótima “Longe É Um Lugar”, com um excelente arranjo de metais e um verso – “joguei fora o meu Rolex” – provável referência a “Seria o Rolex?”, hit emblemático da primeira fase da carreira dos brasilienses.

A influência de indie rock surge forte em “Saionara”, e “Beijo Seu” encerra o “lado A” do álbum com um início lento, um crescendo comedido, e um final apoteótico. A segunda parte começa com a arrastada “Amor É Tradução”, mas cresce muito a partir de “Melodrama”, destacada pela interpretação enfim menos teatral e mais passional do vocalista André Gonzales. “Nova Suinguera”, outro destaque, poderia ser um xote não fosse o refrão digno da Jovem Guarda, e “Campo de Batalha” lembra bons momentos do Los Hermanos, mas encerra o álbum ofuscada pela tocante “Não Chora”, talvez a canção mais triste de um grupo cuja marca maior sempre foi o clima de festa. São outros tempos, enfim.

O Móveis Coloniais de Acaju de Idem ficou definitivamente para trás. A banda era outra, tanto em formação quanto em experiência e a consequente maturidade musical. As mudanças, além de irreversíveis, se revelaram justas e benéficas; não só das grandes rodas de “Copacabana” viveriam os shows do Móveis nos próximos anos, e o novo repertório é cheio de boas canções capazes de agradar tanto em estúdio quanto em festivais Brasil afora. Até dia 12 de agosto, o álbum estará disponível exclusivamente para streaming na Deezer, e você pode ouví-lo na íntegra no player abaixo.

Nota: 7/10

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