Resenha Internal Empires

Resenha Internal Empires

Eu sempre gostei de ler resenhas/críticas de discos. Muitas vezes, quando eu sabia que meu gosto musical era o inverso do crítico, eu corria atrás exatamente do que ele me mandava me distanciar. Outras vezes porém, eu lia críticas de pessoas que tinham o gosto muito parecido com o meu e, quase sempre, os discos indicados me agradavam. Muitos criticam quando uma resenha não diz exatamente o que ela quer ouvir e se esquecem que esse trabalho na verdade está relacionado à descrever uma obra artística, o que fica quase impossível (ou ao menos insosso) de se fazer sem colocar sua própria opinião.

Hoje, a quantidade de música disponível ao alcance de qualquer um é muito, muito maior do que há 15 anos atrás, quando sua fonte de música era basicamente a loja de discos e seus amigos mais próximos. Então, as resenhas são de importância muito grande para guiar, sugerir, e incentivar debates sobre a música desse mundo!

A disponibilidade de informações também influenciou os compositores e muitas bandas surgiram misturando o que era antes impossível de se ver junto. Quando o Sepultura lançou o incrível álbum “Roots“, o metal ainda não havia flertado tanto com a música de raíz brasileira. Max Cavaleira, ao sair da banda, se juntou ao Nação Zumbi, logo depois do triste falecimento de Chico Science, proporcionando um som que desembocaria no primeiro álbum do Soulfly. Toda essa galera precisava pensar e pesquisar música na marra.

Foi pesquisando na marra também que o Los Hermanos compôs um dos trabalhos ímpares da música brasileira na década de 2000. O Ventura foi concebido tendo como influência discos antigos de samba que eram comprados em sebos de vinil.

Portanto, resenhar não é apenas dizer o quão foda é um som sempre. E é isso que torna esse trabalho de pesquisa musical algo tão gratificante pra mim.

Nesse infinito e delicioso trabalho, tive a oportunidade de receber o primeiro e audacioso álbum de uma banda de Chicago chamada Internal Empires. Corruption Of Reason é um álbum consistente e denso. Um trabalho que nos remete a uma banda já acostumada a tocar junto, algo que geralmente não se encontra em primeiros álbuns. O destilado estilo que tem aroma de thrash metal moderno e hardcore ainda flerta com um tanino muitas vezes amargo o bastante para se perguntar o que na verdade seria isso.

O sample de choro desesperado feminino na música de abertura, em meio a riffs com tempos quebrados e contra-tempos propositais na bateria deixa claro que há muita pesquisa musical envolvida aqui. Em “Soundtrack for culture rape“, influências que nos remetem a Refused e a Everytime I Die aparecem de forma mais clara, mas tudo isso com sua própria cara. Vocais berrados ao extremo da garganta e cortes abruptos na música nos remetem mais ainda ao The Shape Of Punk To Come (A importante obra do Refused, cometida em 1998).

A banda mostra em seu álbum de estréia ainda que muitas influências podem estar realmente relacionadas ao seu som, mas, costurando tudo, há a energia pura e o feeling das composições. Um disco para se ouvir de cabo-a-rabo.

Em “How Things Fail“, uma série orquestrações e acordes dissonantes quebra o ritmo. A participação do vocalista Kevin Gibson do Super 8 Bit Brothers parece abrir a caixa de pandora para as experimentações. A música seguinte, “Prophet“, com a participação do vocalista da ótima banda Mose Giganticus, Matt Garfield, continua com experimentações bem peculiares, com corais e vocais gravados de forma mais etérea. O clima da banda volta em “Dayglo“, com a pegada que abre o disco. Ótimos riffs.

Para fechar o álbum, um dedilhado doce introduz “Heart Of Island“. Vocais limpos e melodias mais marcadas apontam para um lado mais Post Hardcore nessa faixa, dando um adeus mais triste para deixar saudade de ouvir esse disco.

Nota: 4/5

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